Em março de 2025, o estado do Pará registrou uma redução de 36% em área sob alertas de desmatamento em relação ao mesmo mês do ano passado, segundo o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe).
Foram registrados 22 km² sob alertas de desmatamento. Esse é o menor valor mensal da série histórica iniciada em 2019.
Segundo o governador Helder Barbalho (MDB), os bons resultados partem de uma ação coordenada do governo estadual.
“Seguimos comprometidos em proteger a floresta e garantir um futuro sustentável para o nosso Estado”, disse o governador.
Belém, a capital paraense, se prepara para sediar a Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas (COP 30), em novembro.
A redução dos alertas de desmatamento também foi observada na Amazônia Legal.
Em março de 2025, a participação do estado do Pará no desmatamento da região caiu de 21%, em 2024, para 16% este ano.
O Hospital Bruno Born divulgou o nome de quatro feridos no acidente envolvendo um ônibus que levava alunos e professores da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM). O veículo tombou na manhã desta sexta-feira (4) na cidade de Imigrante, no interior do estado.
As quatro vítimas que estão internadas no Hospital são:
Eliane Ravazi Matos, de 55 anos, em estado grave.
Emerson Andrade dos Santos, de 25 anos, em estado grave.
Marília Milani, de 37 anos, estável mas inspira cuidados.
Denise Estivalete Cunha, de 33 anos, estável mas inspira cuidados.
Até o momento, o Corpo de Bombeiros confirma ao menos sete mortes.
Denise Estivalete Cunha é professora da graduação em arquitetura e urbanismo e do programa especial de graduação em formação de professores para a educação profissional. Ambos os cargos eram exercidos no Colégio Politécnico da Universidade Federal de Santa Maria.
Marília Milani também é professora do Colégio Politécnico da UFSM, na graduação em agronomia e no programa especial de graduação em formação de professores para a educação profissional. Marília tem mestrado em geobiologia e doutorado em fitotecnia.
Emerson Andrade dos Santos se formou em desenho industrial na UFSM. Seu trabalho de conclusão de curso foi sobre estruturas para jardins verticais em ambientes internos. Emerson também é estudante do primeiro semestre da graduação em paisagismo na mesma universidade.
Eliane Ravazi Matos, de 55 anos, é a quarta vítima do acidente.
O acidente
O acidente ocorreu na estrada Acesso Rota do Sol, próximo a uma indústria metalúrgica. Segundo informações preliminares, o veículo saiu da pista pelo lado esquerdo, perdeu os freios e acabou descendo uma ribanceira.
A rodovia onde ocorreu o acidente foi bloqueada em ambos sentidos para atendimento da ocorrência. De acordo com o Corpo de Bombeiros, o ônibus levava 31 alunos e três professores, além do motorista
O veículo estava com destino marcado à cidade de Imigrante, transportando alunos e professores da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM) para uma visita técnica ao cactário da cidade.
O Rio de Janeiro segue em alerta máximo por conta das chuvas que atingem o estado neste fim de semana. Angra dos Reis, em especial, tem riscos de desabamentos e alagamentos.
Segundo informações da Nottus Meteorologia, choveu 270 milímetros nas últimas 24 horas, mais do que toda a chuva prevista para o mês.
A média mensal de abril em Angra dos Reis é de 170 milímetros.
A Defesa Civil do Estado do Rio de Janeiro já prepara ajuda humanitária para Angra dos Reis. Caminhões com colchões, travesseiros, cobertas, fronhas e engradados de água estão na cidade.
As tarifas recíprocas impostas pelos Estados Unidos na última quarta-feira (2) e as taxas de 25% sobre as importações de aço e alumínio têm gerado preocupações no cenário comercial brasileiro. Em entrevista à CNN, o diretor de Comércio Internacional da BMJ Consultoria e professor de Relações Internacionais da ESPM, José Pimenta, analisou as implicações dessas ações para o Brasil e as possíveis estratégias de resposta.
Segundo Pimenta, o impacto inicial das tarifas parece ter sido menos severo para o Brasil em comparação com outros países. No entanto, ele ressalta a importância de o governo brasileiro buscar negociações, especialmente nos setores de aço e alumínio, onde o país é um exportador significativo para os EUA.
O diretor da BMJ destaca a complexidade das relações comerciais internacionais e a necessidade de o Brasil se posicionar de forma ágil e estratégica diante das mudanças no cenário global.
Para o professor, as negociações em curso e a busca por novos mercados serão cruciais para minimizar os impactos negativos e maximizar as oportunidades emergentes para a economia brasileira.
Negociações e oportunidades
O especialista destacou que o governo brasileiro, através do Itamaraty e outros órgãos, já está em contato com o secretário de Comércio dos EUA, Howard Lutnick, para explorar possibilidades de negociação. “É necessário entender se há espaço para algum tipo de negociação, sobretudo em aço e alumínio”, afirmou Pimenta.
Além de lidar com os desafios impostos pelas tarifas, Pimenta também apontou potenciais oportunidades para o Brasil. Ele mencionou a possibilidade de o país expandir sua presença no mercado asiático, especialmente no setor agrícola.
“Tem um outro mundo que se abre também, que é esse mundo da Ásia, possível aumento de exportações brasileiras, sobretudo do agro”, explicou.
O cenário atual exige uma abordagem estratégica por parte do Brasil. Pimenta sugere que o país deve focar em dois flancos principais: primeiro, buscar soluções para os setores afetados pelas tarifas americanas e, segundo, explorar novas oportunidades de mercado, particularmente na Ásia.
Os textos gerados por inteligência artificial na CNN Brasil são feitos com base nos cortes de vídeos dos jornais de sua programação. Todas as informações são apuradas e checadas por jornalistas. O texto final também passa pela revisão da equipe de jornalismo da CNN. Clique aqui para saber mais.
Legenda da foto, A recente descoberta do ateliê de um falsificador nos relembra a longa história de fraudes em obras de arteArticle information
Author, Kelly Grovier
Role, BBC Culture
Há 31 minutos
As falsificações estão em toda parte: fake news, deep fakes, fraudes de identidade.
O fenômeno das ilusões digitais vem crescendo cada vez mais, com o desenvolvimento da inteligência artificial. Estamos tão mergulhados nesta cultura que fica fácil imaginar que a falsificação seria uma invenção de alta tecnologia da era digital.
Mas observamos recentemente a descoberta de um elaborado ateliê de falsificação de arte em Roma, na Itália – certamente criado sem o uso de alta tecnologia.
Isso sem falar na surpreendente acusação de que uma apreciada obra-prima barroca do acervo da Galeria Nacional de Londres seria uma imitação grosseira de um original que foi perdido.
Estas revelações nos relembram que a falsificação de obras no mundo da arte tem uma longa história comprovada. E ela não foi escrita de forma binária por computador, mas com pigmentos impossíveis, pinceladas desajeitadas e assinaturas suspeitas.
A fraude e a falsificação de obras de arte, portanto, não são nenhuma novidade.
No dia 19 de fevereiro, o Comando Carabinieri de Proteção do Patrimônio Cultural da Itália descobriu uma operação clandestina de falsificação em um bairro no norte de Roma.
As autoridades confiscaram mais de 70 obras de arte falsificadas, atribuídas de forma fraudulenta a artistas consagrados, como Camille Pissarro, Pablo Picasso, Rembrandt e Dora Maar. No mesmo local, havia materiais usados para imitar telas antigas, assinaturas dos artistas e carimbos de galerias hoje inoperantes.
O suspeito ainda não foi preso. Acredita-se que ele tenha usado plataformas online como Catawiki e eBay para divulgar seu material falso, enganando possíveis compradores com certificados de autenticidade convincentes, elaborados por ele mesmo.
A notícia da descoberta do laboratório clandestino foi rapidamente seguida pelo anúncio de um novo livro, lançado em março, que afirma que uma das principais obras do acervo da Galeria Nacional de Londres não é nada do que parece.
A artista e historiadora grega Euphrosyne Doxiadis é a autora do livro NG6461: The Fake National Gallery Rubens ("NG6461: O falso Rubens da Galeria Nacional", em tradução livre). Segundo ela, o quadro Sansão e Dalila foi produzido três séculos depois da data indicada pela galeria (1609-10) e seu valor é incalculavelmente menor do que acredita o museu.
Sansão e Dalila é uma grande pintura a óleo sobre madeira, atribuída ao mestre flamengo Peter Paul Rubens (1577-1640). O museu londrino adquiriu a obra em 1980 por 2,5 milhões de libras (cerca de R$ 18,6 milhões, pelo câmbio atual). Na época, foi o segundo valor mais alto já pago por um quadro em um leilão.
Crédito, Alamy
Legenda da foto, 'Sansão e Dalila', de Peter Paul Rubens
A conclusão de Doxiadis confirma outra descoberta, feita em 2021, pela companhia Art Recognition. A empresa suíça determinou, utilizando inteligência artificial, que havia 91% de probabilidade que Sansão e Dalila fosse obra de outro artista, não de Rubens.
A avaliação da artista de que o trabalho com o pincel que observamos na pintura é grosseiro e totalmente inconsistente com o fluxo fluido das mãos do mestre flamengo é veementemente contestada pela Galeria Nacional, que defende sua atribuição.
"Sansão e Dalila é aceito há muito tempo, pelos estudiosos de Rubens, como uma obra-prima de Peter Paul Rubens", afirmou a galeria, em declaração fornecida à BBC.
"Pintada em óleo sobre um painel de madeira, pouco antes do seu retorno a Antuérpia [hoje, na Bélgica] em 1608 e demonstrando tudo o que o artista havia aprendido na Itália, esta é uma obra da mais alta qualidade estética. Um exame técnico do quadro foi apresentado em um artigo publicado no Boletim Técnico da Galeria Nacional em 1983. As conclusões permanecem válidas."
A divergência de opiniões entre os especialistas do museu e os que duvidam da autenticidade da obra abre um curioso espaço para refletir sobre interessantes questões sobre mérito e valor artístico.
Existe legitimidade na falsificação? As falsificações podem ser obras-primas?
Ferramentas de análise cada vez mais sofisticadas vêm sendo aplicadas às pinturas e desenhos cuja legitimidade é questionada há muito tempo. Eles incluem diversas obras atribuídas a Leonardo da Vinci (1452-1519), como o fortemente questionado desenho em tinta e giz A Bela Princesa (1495-96). E também geraram debates sobre outras obras, que nunca tiveram sua validade colocada em dúvida antes.
Com isso, o debate sobre a integridade de ícones culturais, provavelmente, só irá aumentar.
A BBC reuniu cinco princípios práticos para se ter em mente ao observar as controvérsias futuras. São cinco regras básicas para identificar obras de arte falsas.
Crédito, Alamy
Legenda da foto, Pintura de São Jerônimo
Regra 1: Os pigmentos nunca mentem
Para falsificar obras de arte com sucesso, é preciso muito mais do que proficiência técnica e princípios éticos mal definidos.
Não basta apenas se aproximar do pontilhado de tinta de Georges Seurat (1859-1891), por exemplo, ou dos expressivos e espessos redemoinhos de Vincent van Gogh (1853-1890). Você precisa conhecer história e química.
Pigmentos anacrônicos irão denunciar você todo o tempo. Eles foram os responsáveis pela descoberta do falsificador de arte alemão Wolfgang Beltracchi e sua esposa Helene.
O casal ganhou milhões vendendo obras primas modernistas falsificadas, até que a inclusão descuidada de tinta pré-fabricada nas suas audaciosas paletas, em 2006, selou o seu destino.
O modus operandi de Beltracchi era criar "novas" obras de todos os pintores, de Max Ernst até André Derain, e não recriar as pinturas perdidas. Ele sempre teve o cuidado de misturar suas próprias tintas, para garantir que elas contivessem apenas ingredientes existentes na época do artista que ele pretendia imitar.
Ele só escorregou uma vez – e foi o suficiente.
Beltracchi tentava produzir um cenário vermelho deformado com cavalos recortados, no estilo do movimento artístico alemão Der Blaue Reiter. Ele atribuiria a obra ao pintor expressionista alemão Heinrich Campendonk (1889-1957).
Para isso, o falsificador usou um tubo de tinta pronta, que ele não percebeu que continha traços de branco de titânio – um pigmento relativamente novo, ao qual Campendonk não teria tido acesso. Era tudo o que os pesquisadores precisavam para comprovar a falsidade do trabalho – que havia sido vendido por 2,8 milhões de euros (cerca de R$ 17,5 milhões).
Beltracchi teve pouca sorte. O intervalo entre a disponibilidade do branco de titânio e seu possível uso por Campendonk era de apenas alguns anos. Mas, às vezes, este período de tempo é surpreendentemente longo.
A análise de um retrato de São Jerônimo, antes atribuído ao mestre italiano Parmigianino (1503-1540) e vendido pela casa de leilões Sotheby's em 2012 por US$ 842.500 (cerca de R$ 4,86 milhões), demonstrou a existência em toda a obra do pigmento sintético verde de ftalocianina, inventado em 1935 – quatro séculos depois do pintor renascentista do século 16.
Os artistas podem ser visionários, mas não viajam no tempo.
Crédito, Museum Boijmans Van Beuningan
Legenda da foto, 'Os Homens em Emaús', de Han van Meegeren
Regra 2: Tenha presente o passado
É estimulante acreditar que os valores de uma pessoa não estão presos ao passado. Exceto quando o assunto é arte.
Uma pintura, escultura ou desenho sem uma forte história, infelizmente, não desperta mais inspiração devido à sua falta de bagagem. Ela se torna suspeita ou, pelo menos, deveria.
Muito frequentemente, a ganância pode interferir na clareza de visão para determinar a autenticidade de uma pintura ou escultura. Nestes casos, as obras têm a história que nós queremos que elas tenham.
Este certamente foi o caso de uma sucessão de falsas obras de Vermeer (1632-1675), originadas do ateliê de um retratista holandês chamado Han van Meegeren (1889-1947) – um dos mais produtivos e bem sucedidos falsificadores do século 20. Entre as obras, havia uma ilustração de Cristo e os Homens em Emaús.
Os colecionadores ficaram desesperados. Eles queriam acreditar que aquelas telas miraculosamente surgidas pudessem realmente ser obras-primas perdidas das mesmas mãos que criaram A Leiteira e a Moça com Brinco de Pérola.
Isso fez com que todos ficassem cegos para a evidente ausência de qualquer indicação sobre a origem das pinturas, como seu dono anterior, histórico de exibições e comprovação de vendas. Todos foram iludidos.
Ao autenticar a pintura na revista de arte Burlington, um especialista insistiu que "em nenhuma outra pintura do grande Mestre de Delfos [na Holanda], encontramos tanto sentimento, uma compreensão tão profunda da história da Bíblia – um sentimento humano expresso de maneira tão nobre pelo meio da mais fina arte".
Em uma reviravolta surpreendente da história, Van Meegeren acabou confessando a fraude, pouco antes do fim da Segunda Guerra Mundial (1939-1945). As autoridades holandesas o haviam acusado de vender um Vermeer – considerado tesouro nacional – para o oficial nazista Hermann Göring (1893-1946).
Para comprovar sua inocência (se é que pode ser chamada assim), ele precisou demonstrar que havia vendido apenas uma cópia sem valor forjada por ele mesmo, não um quadro real do Velho Mestre. Para isso, Van Meegeren realizou o feito extraordinário de criar uma obra-prima totalmente nova, a partir do nada, perante os olhos atônitos dos especialistas.
Legenda da foto, 'A Carroça de Feno' (1821), de John Constable.
Mais recentemente, em 2017, um episódio do popular programa de artes da BBC Fake or Fortune? ("Falso ou fortuna?", em português) levou ao ar um antigo pressentimento do apresentador e comerciante de arte Philip Mould.
Mould acreditava que um quadro que ele vendeu, certa vez, por 35 mil libras (cerca de R$ 260,7 mil), na verdade, poderia ser um original com valor incalculável do artista romântico inglês John Constable (1776-1837) – uma versão alternativa e, até então, não documentada da obra-prima A Carroça de Feno (1821).
Mould e a coapresentadora do programa, Fiona Bruce, escavaram registros financeiros arquivados há muito tempo e, surpreendentemente, confirmaram o pressentimento do apresentador.
A equipe do programa rastreou a propriedade da pintura até uma venda feita pelo filho do artista. Com isso, eles recalcularam o verdadeiro valor da tela em 2 milhões de libras (cerca de R$ 14,9 milhões).
Ou seja, certamente vale a pena vasculhar certos itens do passado.
Os gestos dos artistas – suas pinceladas e desenhos, simultaneamente bem estudados e instintivos – são nada menos do que suas impressões digitais nas telas e folhas de papel.
A leveza de toque de um artista e a força do impacto de outro são extremamente difíceis de se falsificar, especialmente se você tiver consciência de que cada contorção do seu pincel e cada traço do seu lápis serão analisados por olhos desconfiados e equipamento de última geração.
É difícil manter pressão sob pressão – um obstáculo que o falsificador britânico Eric Hebborn (1934-1996) superou com álcool.
Hebborn morreu em Roma sob circunstâncias suspeitas, depois de ter falsificado mais de 1 mil obras atribuídas a diversos artistas, como Andrea Mantegna, Giovanni Tiepolo, Nicolas Poussin e Giovanni Piranesi.
Consta que o remédio preferido de Hebborn para acalmar seus nervos à flor da pele era o conhaque. A bebida permitia que ele incorporasse, sem a menor inibição, a mente e os músculos de qualquer mestre antigo que ele quisesse canalizar.
Enquanto as falsificações de Beltracchi e Van Meegeren foram descobertas por inspeções cuidadosas, por serem repletas de gestos incoerentes, a fluidez dos desenhos falsificados pelo embriagado Hebborn durante seu apogeu, nos anos 1970 e 1980, continua a confundir os especialistas até hoje.
Algumas instituições que mantêm a guarda dos trabalhos que passaram pelas suas mãos ainda se recusam a aceitar que todos sejam falsos. É o caso do Museu Metropolitano de Arte de Nova York, nos Estados Unidos, que segue defendendo que o desenho Templos de Vênus e Diana em Baia Vistos do Sul, feito a tinta e caneta, é realmente do círculo do pintor flamengo Jan Brueghel, o Velho (1568-1625).
Crédito, Getty Images
Legenda da foto, 'Natureza-morta com flores do campo e rosas', de Vincent van Gogh
Regra 4: Vá a fundo
Quando a análise dos pigmentos, proveniência e pressão do pincel ainda deixar você em dúvida, pode ser necessário ir um pouco mais a fundo.
Por 20 anos, desde os anos 1990, diferentes especialistas confirmaram e rejeitaram a autenticidade de uma natureza-morta supostamente criada por Vincent van Gogh.
Para alguns deles, os vermelhos berrantes e azuis-marinhos estranhamente refletidos do buquê de rosas, margaridas e flores silvestres não têm aparência real e parecem discordantes da paleta do pintor. E a ausência de registros de propriedade da pintura agravava a situação.
Mas um raio X realizado em 2012 respondeu aos questionamentos. O exame revelou que o artista, para economizar, reutilizou uma tela sobre a qual havia criado outra imagem completamente diferente, à qual ele faz referência explícita em uma carta de janeiro de 1886.
Na carta, van Gogh relatou ao seu irmão Theo: "Esta semana, pintei algo grande com dois torsos nus – dois lutadores... e realmente gostei de fazer aquilo."
Como se previsse, profeticamente, a disputa futura entre os acadêmicos sobre a autenticidade da obra, a imagem estática da contenda entre os dois atletas, oculta sob a tinta por mais de um século, resgatou a pintura das acusações injustas de falta de legitimidade.
E ainda criou uma espécie de pintura composta, uma compressão vívida – um quadro congelado de uma mente incessante lutando contra si própria, desesperada para sobreviver.
Regra 5: As revelações estão nos pequenos detalhes
Como última defesa antes de autenticar uma obra de arte, revise os detalhes.
Esta simples medida teria feito o colecionador Pierre Lagrange economizar US$ 17 milhões (cerca de R$ 98 milhões) em 2007. Foi o preço que ele pagou pela convincente falsificação de uma pequena pintura de 30x46 cm, falsamente atribuída ao expressionista abstrato americano Jackson Pollock (1912-1956).
Famoso pelo seu estilo característico, Pollock tem uma assinatura surpreendentemente legível, um inconfundível "c" antes do "k" final. A omissão de uma simples consoante faria mais do que expor uma simples falsificação – ela destruiria toda a reputação da galeria.
A falta de cuidado na assinatura foi apenas um dos vários sinais que passaram despercebidos em obras falsamente atribuídas a Mark Rothko, Willem de Kooning, Robert Motherwell e outros artistas, que foram vendidas por US$ 80 milhões (cerca de R$ 461 milhões), pela galeria Knoedler & Co. – uma das mais antigas e estimadas instituições de arte de Nova York.
As obras fraudulentas foram fornecidas por um negociante duvidoso, que declarou terem vindo de um enigmático colecionador, o "Sr. X".
A galeria fechou as portas depois de 165 anos, pouco antes que o escândalo surgisse na imprensa. O suspeito pela falsificação era um septuagenário chinês autodidata chamado Pei-Shen Qian, que havia trabalhado no ateliê de um falsificador no Queens, em Nova York. Ele desapareceu e ressurgiu posteriormente na China.
Legenda da foto, Local de testes para detectar sarampo no Texas: os EUA haviam declarado a eliminação total da doença em 2000, mas os casos têm aumentado neste anoArticle information
Author, Madeline Halpert
Role, BBC News
Há 28 minutos
Mais uma criança morreu de sarampo durante um surto do vírus, que atinge o oeste do Texas, nos Estados Unidos.
A menina tinha 8 anos e não estava vacinada. Ela não tinha problemas de saúde prévios e foi hospitalizada por complicações decorrentes da doença, disse à BBC Aaron Davis, vice-presidente de um hospital em Lubbock, no Texas.
Robert F. Kennedy Jr., secretário de Saúde do governo Donald Trump e que ficou conhecido por seu ceticismo em relação às vacinas, visitou o Estado após a notícia da morte. Ele enfrenta críticas por sua gestão do surto.
O Texas registrou mais de 480 casos de sarampo neste ano até a última sexta-feira (4/4), um aumento de 60 casos em relação ao início da semana. O surto se estendeu aos Estados vizinhos ao Texas.
"Este infeliz acontecimento sublinha a importância da vacinação", disse Davis em um comunicado.
"O sarampo é uma doença altamente contagiosa que pode levar a complicações graves, particularmente para aqueles que não estão vacinados."
A criança morreu na madrugada de quinta-feira.
Em fevereiro, uma menina de seis anos não vacinada da comunidade menonita local foi a primeira criança a morrer de sarampo nos EUA em uma década. Em março, um homem não vacinado morreu no Estado do Novo México após contrair o vírus, embora a causa da morte ainda esteja sob investigação.
Houve mais casos de sarampo nos EUA durante os primeiros três meses de 2025 do que em todo o ano de 2024, de acordo com o Centro de Controle e Prevenção de Doenças (CDC).
Crédito, Reuters
Legenda da foto, O atual secretário de saúde dos EUA RFK Jr durante um ato em 2019 contra a obrigatoriedade de vacinas por motivos religiosos
O departamento de saúde do Estado do Texas e o Departamento Federal de Saúde não listaram a morte em suas contagens de casos na sexta-feira.
Em um comunicado, Kennedy confirmou a morte da menina.
"Minha intenção era vir aqui discretamente para consolar as famílias e estar com a comunidade em seu momento de luto", disse o secretário no comunicado.
Ele também disse que estava em contato com autoridades locais para "apoiar os funcionários de saúde do Texas e aprender como nossas agências podem fazer uma parceria melhor com eles para controlar o surto de sarampo".
Kennedy disse que estava enviando uma equipe, como fez em março, para ajudar a distribuir vacinas, medicamentos e outros suprimentos, entre outros serviços de apoio.
"A maneira mais eficaz de prevenir a propagação do sarampo é a vacina MMR", escreveu Kennedy.
Antes de ser nomeado por Trump para comandar a saúde, Kennedy se notabilizou por sua posição crítica em relação às vacinas — e por liderar movimentos que questionam a regulamentação e a segurança dos produtos farmacêuticos.
Em 2007, RFK Jr. fundou a organização Children's Health Defense, uma entidade dedicada a denunciar o que considera práticas nocivas da indústria farmacêutica.
A ONG é considerada por parte da comunidade científica como uma fonte perigosa de desinformação sobre vacinas.
Legenda da foto, Há um lado secreto do YouTube, que vai além do algoritmo — e não é nada parecido com o que você conheceArticle information
Author, Thomas Germain
Role, BBC Future
Há 1 hora
Este ano marca o 20º aniversário do YouTube. Desde seu início modesto como um espaço para amadores, o YouTube se transformou em uma plataforma de vídeos tão colossal que a empresa se autodenomina a nova Hollywood.
O YouTube é o serviço de streaming de TV número um do mundo, onde os usuários assistem bilhões de horas de conteúdo todos os dias. A audiência dos principais youtubers supera com frequência a dos grandes estúdios.
Para efeito de comparação, estima-se que 823 milhões de ingressos de cinema foram vendidos nos EUA e no Canadá em 2024. Enquanto isso, somente o vídeo de maior sucesso do MrBeast acumulou 762 milhões de visualizações, cerca de uma visualização para cada 10 pessoas no planeta.
Essa é a visão do YouTube que a empresa promove — habilidosa, profissional, divertida e estrondosa — mas, de uma perspectiva, tudo isso é uma fachada.
Por outro ângulo, a essência do YouTube é mais parecida com um vídeo de 2020 que eu vi. Antes de eu assistir, ele só tinha sido visualizado duas vezes. Um homem aponta a câmera para fora da janela do seu quarto enquanto uma tempestade começa no auge do inverno.
"Aqui está", diz ele. "A neve caindo." O som de uma TV é reproduzido ao fundo. Um pássaro pousa em uma cerca próxima. 19 minutos se passam. Nada acontece.
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"As conversas que estamos tendo sobre o YouTube são baseadas em uma visão limitada do que a plataforma realmente é", diz Ryan McGrady, pesquisador da Iniciativa para Infraestrutura Pública Digital da Universidade de Massachusetts Amherst, nos EUA.
"Quando nos concentramos apenas no que é popular, perdemos a noção de como a grande maioria das pessoas, na verdade, usa o YouTube para fazer uploads, e ignoramos o papel que ele desempenha em nossa sociedade."
Passei o último mês mergulhado em uma das primeiras amostras verdadeiramente aleatórias do YouTube já coletadas fora da empresa. Vi um lado da internet que, às vezes, parece perdido, um lado repleto de uma autoexpressão genuína, sem filtros. É um mundo inteiro que o algoritmo do YouTube, que tudo vê, não mostra a você.
"O YouTube não é apenas um veículo para profissionais", afirma McGrady. "Contamos com ele como o braço de vídeo padrão da internet. O YouTube é uma infraestrutura. É uma ferramenta essencial que as pessoas comuns usam para se comunicar."
Para desvendar esse lado do YouTube, McGrady e seus colegas criaram uma ferramenta que busca vídeos aleatoriamente. O mecanismo vasculhou mais de 18 trilhões de URLs potenciais antes de coletar uma amostra grande o suficiente para uma análise científica real.
Entre as descobertas, os pesquisadores estimam que o vídeo mediano foi assistido apenas 41 vezes; as postagens com mais de 130 visualizações estão, na verdade, no terço superior do conteúdo mais popular do serviço. Em outras palavras, a grande maioria do YouTube é praticamente invisível.
A maioria destes vídeos não foi feita para ser vista por nós. Eles existem porque as pessoas precisam de um sótão digital para armazenar suas memórias. É uma internet que não é moldada pelas pressões de cliques e algoritmos — um vislumbre de um lugar onde o conteúdo não precisa ter desempenho, onde ele pode simplesmente existir.
No ambiente selvagem
Doze anos atrás, uma mulher dos EUA chamada Emily publicou um vídeo no YouTube chamado "sw33t tats". Descobri que o conteúdo é ainda mais antigo, gravado por volta de 2008. No vídeo, Emily, que pediu para não revelar seu nome completo, está sentada em seu dormitório na faculdade. Ela mantém a boca aberta enquanto sua irmã mais nova pega uma caneta para escrever algo na parte interna do lábio dela.
"Pare de se mexer!", grita a irmã enquanto começa a escrever, e as meninas mal conseguem segurar o riso. Emily exibe o lábio aberto para a câmera, e sua irmã faz o mesmo, revelando sua própria "tatuagem". Mas a imagem está desfocada; o que quer que essas tatuagens falsas tenham dito se perdeu no tempo.
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Emily, hoje com 34 anos e morando na cidade de Nova York, havia esquecido que esse vídeo existia até eu perguntar a ela sobre ele. "Nem me lembro por que fiz o upload", diz ela. "Acho que queria enviá-lo para minha irmã, mas também precisava liberar espaço no meu disco rígido. Eu só precisava de um lugar para colocá-lo. Não sei, é engraçado e estranho. Fico feliz que ainda esteja aqui."
"Temos a tendência de supor que o motivo para usar a rede social é tentar ser um influenciador, ou você é o Joe Rogan ou é um fracasso. Mas essa é a maneira errada de pensar sobre isso", afirma Ethan Zuckerman, que lidera a pesquisa sobre o YouTube como diretor da Iniciativa para Infraestrutura Pública Digital da Universidade de Massachusetts Amherst.
O YouTube disse à BBC que é incorreto afirmar que a plataforma não permite que você veja vídeos com poucas visualizações ou conteúdo de canais pequenos. A função do algoritmo é ajudar as pessoas a encontrar os vídeos que desejam assistir e que vão agregar valor a elas, acrescenta o YouTube, e às vezes isso inclui vídeos com um número pequeno de visualizações.
"A mágica do YouTube é que, independentemente de um vídeo ter 60 visualizações ou seis milhões, as pessoas podem encontrar uma comunidade, aprender uma nova habilidade, se divertir ou compartilhar sua voz com o mundo", afirma Boot Bullwinkle, porta-voz do YouTube. "Todos os canais começam da mesma folha em branco, a partir da qual podem criar um público e desenvolver um negócio."
Zuckerman e seus colegas não foram os primeiros a vasculhar o submundo do YouTube. Entre 2009 e 2012, por exemplo, os iPhones incluíram um recurso que permitia aos usuários publicar vídeos diretamente no YouTube com apenas alguns toques. O YouTube informou que os uploads móveis aumentaram 400% por dia.
A menos que as pessoas adicionassem um título personalizado, o nome de todos esses vídeos seguia um formato padrão, o que os torna facilmente pesquisáveis mais de uma década depois. Alguns usuários online exploraram esses vídeos, que aparentemente chegam a milhões. Um deles até criou um player customizado que os exibe alternadamente.
Sem as recomendações do algoritmo, você descobre que o YouTube é um estudo do cotidiano, diz Zuckerman, pessoas documentando pequenos momentos de suas vidas e usando as ferramentas disponíveis para trocar ideias.
No Sul da Ásia, por exemplo, Zuckerman diz que o YouTube e redes semelhantes parecem funcionar como uma ferramenta de mensagens de vídeo para pessoas com pouco ou nenhum conhecimento. A maior parte do YouTube vem de fora dos EUA, na verdade. O laboratório de Zuckerman estima que mais de 70% dos vídeos do YouTube estão em idiomas diferentes do inglês.
Você encontra pescadores na América do Sul acenando de um barco, ou dois operários da construção civil falando em hindi sobre a saudade que sentem de casa. Vídeos como estes se enquadram na categoria de conteúdo que ele chama de "amigos e família", em que todos os comentários e interações vêm de pessoas que parecem conhecer o usuário pessoalmente.
"Se algum desses vídeos se tornasse viral, significaria que algo deu terrivelmente errado. Não é para isso que serve a maior parte do YouTube", explica Zuckerman.
Pequenos momentos
A maior parte do YouTube não assistido é menos divertida do que o "sw33t tats", o que, com todo o respeito à Emily, é um patamar baixo. O conteúdo é sem graça o suficiente para derreter seu cérebro.
Uma noiva se prepara para uma sessão de fotos. Um coreano ranzinza desabafa sobre política. Seis segundos de um instrutor de artes marciais, desprovido de contexto. Imagens da câmera no painel de um carro com dificuldade para sair de uma vaga no estacionamento. Uma mulher anuncia um cavalo para venda em 2018. Gravações de tela intermináveis e banais de videogames — o estudo da Universidade de Massachusetts Amhurst descobriu que as pessoas jogando videogames parecem representar quase 20% do YouTube.
De vez em quando, você se depara com algo divertido ou, mais frequentemente, simplesmente estranho. Três homens dando tapas de forma performática nos traseiros uns dos outros ao som de uma música de James Brown.
Uma mulher avalia uma marca de mortadela fatiada (não é "tão ruim"). Ou vejamos o caso do canal "Space Stuff and Other Stuff", que pode ser traduzido como "Coisas espaciais e outras coisas", no qual um garoto faz um rap sobre o planeta Netuno e compartilha suas condolências após o falecimento da rainha Elizabeth 2ª. Aparentemente, este último vídeo se enquadra na categoria "outras coisas".
Alguns vídeos são de cortar o coração. Ouvi um homem idoso descrever como está vivendo em um carro em uma fazenda, trocando trabalho manual por um lugar para ficar.
Houve uma homenagem comovente a um gato que morreu. "Kiko não sobreviveu", diz Tyler, seu dono, segurando as lágrimas. "Está tudo tão silencioso aqui sem ele".
Depois de algumas dezenas de vídeos, parei para assistir a uma jovem bailarina flutuando delicadamente pelo palco, indo e voltando na frente de uma multidão silenciosa.
"Como pesquisadores, passamos muito tempo com esse material. Pode ser muito parecido com ver as fotos pessoais dos outros", diz Zuckerman.
"A maior parte é entediante, mas às vezes é comovente e até assombroso. E, de vez em quando, você encontra algo que parece incrivelmente revelador sobre como os seres humanos se comunicam."
Mas meus vídeos favoritos foram, de longe, os de Bill "The WoofDriver" Hellman. Ele tem 58 anos e trabalha no setor imobiliário nos arredores de Baltimore, nos EUA. Mas essa não é sua paixão. O que realmente interessa a Hellman são seus cães, e a maneira única como cuida deles. "Você nunca viu nada assim antes", diz ele em um vídeo. Garanto que ele está certo.
Hellman construiu mais de 50 veículos personalizados que ele usa para levar seus quatro huskies para o que ele chama de "corrida de trenó urbana". Ele usa a rede social para documentar suas aventuras nas trilhas do leste dos EUA.
A cena se parece um pouco com as corridas de trenós puxados por cães de Iditarod (uma famosa corrida anual no Alasca).
Só que aqui, os cães geralmente são amarrados na lateral de suas várias engenhocas lentas, bicicletas reclinadas e carrinhos elétricos para passear com cachorros. Pelo que parece, os cães de Hellman gostam de participar.
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Ele postou mais de 2,4 mil vídeos no YouTube nos últimos 14 anos, muitos dos quais incluem canções de rock originais. (Hellman diz que compôs mais de 100 músicas do WoofDriver, na verdade.) Ele se dedica muito a isso, saindo com drones e grupos de amigos para documentar suas jornadas.
Hellman até pagou para receber o apoio de celebridades por meio da plataforma Cameo para promover seus vídeos. Mas, apesar de todo o esforço, seu canal costuma despertar pouco interesse. Muitos vídeos têm visualização na casa dos dois dígitos.
"Na maioria das vezes, não tenho uma audiência grande, mas isso não me incomoda. Eu fiquei tão entusiasmado com a felicidade que isso gerou nos cachorros que, em algum momento, pensei: 'Preciso compartilhar isso'", conta Hellman.
"Talvez isso inspire alguém a cuidar melhor de seus cães, mas, na verdade, eu uso o YouTube como uma nuvem, para ter um lugar para documentar minhas aventuras."
O YouTube não paga as contas, e o WoofDriver não está vendendo nada — embora ele tenha prazer em compartilhar as dimensões caso você queira construir seu próprio trenó urbano para cães. "Eu só faço isso por causa da alegria que me traz", diz Hellman.
'Se você procurar, vai encontrar'
O YouTube aleatório geralmente não se parece com os vídeos altamente produzidos do WoofDriver, mas ele é uma boa representação em um aspecto. Assim como o conteúdo de Hellman, a maior parte do teor destes vídeos "invisíveis" do YouTube varia de neutro a extremamente positivo.
O mesmo não pode ser dito sobre o que chega ao topo. Pesquisas sugerem que o algoritmo do YouTube amplifica a negatividade, reforça estereótipos e oferece aos usuários pouco controle sobre o conteúdo que eles não querem ver.
Ao longo dos anos, o YouTube tem enfrentado cada vez mais críticas sobre preocupações relacionadas a discurso de ódio, extremismo político e desinformação. Assim como outras plataformas de rede social, o YouTube tem sido usado por cartéis de drogas e terroristas como uma ferramenta de promoção e recrutamento.
O YouTube afirma que a empresa emprega um conjunto de diretrizes para a comunidade desde seus primórdios para estabelecer o que é permitido na plataforma. A empresa diz que redobrou os esforços para lidar com suas responsabilidades.
Uma forma de o YouTube medir seu sucesso é por meio da sua "taxa de visualização de conteúdo com violações". Em 2017, para cada 10 mil visualizações no YouTube, de 63 a 72 visualizações vinham de conteúdo que violava as políticas do YouTube, mas hoje este número caiu para de oito a nove visualizações, de acordo com a empresa.
O YouTube diz que oferece aos usuários várias maneiras de gerenciar as recomendações e os resultados de pesquisa da plataforma, como a exclusão do histórico de exibição.
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Legenda da foto, Os vídeos 'não assistidos' do YouTube são um documentário oculto da vida humana
Quando a Iniciativa para Infraestrutura Pública Digital decidiu estudar o YouTube, parte do ímpeto foi documentar o quão comum é o discurso de ódio e a desinformação na plataforma.
"Se você procurar, vai encontrar", diz McGrady. Mas, em comparação com o total de vídeos no YouTube, isso é extremamente incomum. Ainda assim, não importa o quão raro seja um vídeo prejudicial se ele obtiver milhões de visualizações, acrescenta McGrady. Por isso, o conteúdo prejudicial continua sendo um problema grave no YouTube.
Nos últimos anos, o Google enfrentou uma onda de escrutínio por parte de formuladores de políticas públicas, com novas leis e uma enxurrada de regulamentações propostas — sem mencionar uma série de processos antitruste. Mas quando o debate sobre regulamentação se volta para os vídeos no YouTube, o foco é quase sempre o conteúdo que se torna viral, diz McGrady.
Isso ignora as obrigações que o YouTube deveria ter porque, de acordo com ele, a empresa está gerindo uma infraestrutura essencial.
"A internet é profundamente problemática, e não podemos ignorar a maneira como as empresas de tecnologia estão exacerbando esses problemas", observa McGrady.
"O que me deixa esperançoso é que quando você encontra uma maneira de ver como as pessoas estão realmente usando a web, grande parte ainda parece com os primórdios da internet. É expressão, comunicação, conexão. Basicamente, é um lugar em que pessoas comuns compartilham entre si e fazem coisas maravilhosas."
O YouTube sobre o qual falamos — aquele repleto de celebridades, escândalos e conteúdo viral fabricado — conta apenas parte da história. A maior parte existe em momentos de silêncio, em cinegrafistas trêmulos e vozes destinadas a ninguém em particular.
Assisti a centenas destes vídeos. Cada um deles está aberto ao público, mas também está claro que a maioria das pessoas não fez o upload deste conteúdo para estranhos. Foi como se eu estivesse descobrindo um segredo, um documentário extenso e sem curadoria da vida humana.
Mas assisti-los também me pareceu um trabalho, em comparação com o entretenimento gerado pelo doomscrolling — hábito de rolar o feed sem parar, não importa quão nocivo seja o conteúdo — que você obtém com o algoritmo. Por fim, fechei as abas do meu navegador, e voltei para a página inicial do YouTube, de volta ao mundo polido da internet corporativa.
Os "pró-natalistas", um grupo marginal controverso quase que exclusivamente de direita, alegam que algumas das pessoas mais poderosas do governo dos Estados Unidos são solidárias à sua causa. Mas quanta influência eles realmente têm?
Simone Collins está sentada em sua casa de campo do século 18 na Pensilvânia, ninando um de seus quatro filhos no colo. São 8h30 da manhã, e ela parece um pouco cansada — ela administra várias empresas, uma fundação e está grávida do quinto filho, embora ela e o marido, Malcolm, planejem ter mais.
"Pelo menos sete", ela declara, "e quantos eu puder carregar fisicamente —12 seria ainda mais incrível".
O casal americano, de 37 e 38 anos, acredita veementemente que o mundo precisa ter mais bebês ou corre o risco de haver um colapso da civilização. Eles se tornaram os garotos-propaganda do pró-natalismo, um movimento que acredita que a queda nas taxas de natalidade é um grande problema para a sociedade. E que famílias grandes são a resposta.
Nos últimos cinco anos, eles divulgaram seu objetivo abrindo sua casa para entrevistas e sessões de fotos. E afirmam ter usado uma tecnologia especial, durante o procedimento de fertilização in vitro, para examinar seus embriões quanto a características como inteligência.
"Os estudos nos permitem saber qual é a nossa predileção genética por QI", eles disseram a um repórter disfarçado em 2023. "Nunca escolheremos uma criança que seja menos privilegiada em termos de QI do que qualquer um de nós."
Legenda da foto, A família Collins se tornou a voz do movimento pró-natalista
Falando hoje, no entanto, Malcolm admite: "A maneira mais fácil [de divulgar o pró-natalismo] foi nos transformarmos em um meme... Se adotarmos uma abordagem razoável e dissermos que as coisas têm nuances, ninguém se envolve. Então, se dissermos algo ultrajante e ofensivo, todo mundo embarca."
Mas desde que Donald Trump tomou posse como presidente dos EUA pela segunda vez no início deste ano, eles levaram sua evangelização a um novo patamar. Os Collins agora veem certas pessoas na Casa Branca como aliados em potencial — e pretendem capitalizar em cima disso.
Elon Musk, que supostamente é pai de 14 filhos, chamou o declínio da fecundidade de "a maior ameaça que a civilização enfrenta, de longe". Ele doou US$ 10 milhões para a Population Wellbeing Initiative no Texas, que realiza pesquisas sobre fertilidade, paternidade e o futuro do crescimento populacional.
O vice-presidente dos EUA, J.D. Vance, também falou abertamente sobre suas opiniões a respeito da procriação. Em uma manifestação contra o aborto em janeiro, ele declarou: "Eu quero mais bebês nos Estados Unidos da América".
Há indícios de que o governo Trump também está priorizando a família. Em 18 de fevereiro, Trump assinou uma ordem executiva para melhorar o acesso à fertilização in vitro que reconhecia "a importância da formação da família, e que a política pública da nossa nação deve facilitar que mães e pais amorosos tenham filhos".
Os pró-natalistas estão animados com isso, e muitos esperam que seja um sinal do que está por vir.
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Legenda da foto, 'Quero mais bebês nos Estados Unidos da América', declarou J.D. Vance (na foto, com a esposa e dois de seus três filhos)
Os dados do declínio da fecundidade são claros. Os EUA apresentam uma baixa recorde de 1,62 filhos por mulher e, até o final do século, a Organização das Nações Unidas (ONU) prevê que a maioria dos países terá uma população em declínio. Isso vai ter um efeito profundo na sociedade e em nossas economias. Algumas pessoas acreditam que podemos nos adaptar com o tempo a essa nova realidade, mas os pró-natalistas são menos otimistas.
O movimento também tem, no entanto, um elemento político. Os pró-natalistas são quase que exclusivamente de direita. Malcolm e Simone Collins, por exemplo, descrevem a si mesmos como ex-liberais que se desiludiram com a política progressista e "woke".
Eles se consideram pragmáticos e profundamente antiburocráticos.
"Somos uma coalizão de pessoas que são incrivelmente diferentes em nossas filosofias, nossas crenças teológicas e nossas estruturas familiares", afirma Malcolm. "Mas a única coisa com a qual concordamos é que nosso principal inimigo é a monocultura urbana; a cultura unificadora esquerdista."
Será, então, que este grupo marginal poderia realmente chamar a atenção de algumas das pessoas mais poderosas do governo dos EUA? E, em caso afirmativo, quanto soft power eles poderiam ter para influenciar a política não apenas em relação ao declínio populacional, mas também em relação a questões mais amplas?
Vance, Musk e o 'presidente da fertilização'
No último fim de semana, um grupo de aproximadamente 200 pró-natalistas se reuniu no Texas para a segunda Conferência Natal, um evento anual de fim de semana que custa cerca de US$ 1 mil (R$ 5,7 mil) para participar.
A conferência reúne duas vertentes do pró-natalismo que vêm de ramos muito diferentes da direita americana: tanto cristãos conservadores quanto membros da chamada "direita tecnológica", uma ala ascendente que surgiu da cultura libertária de start-up do Vale do Silício.
Alguns estão conectados ao atual governo dos EUA. Michael Anton foi nomeado por Trump como diretor de Planejamento de Políticas no Departamento de Estado. Ele discursou na conferência do ano passado.
Outros palestrantes da conferência deste ano incluíram Carl Benjamin, que tem ligação com o ativista de direita radical Tommy Robinson, e Charles Cornish-Dale, um influenciador conhecido como Raw Egg Nationalist.
"É como uma aliança profana", diz Catherine Pakaluk, economista, mãe de oito filhos e madrasta de seis. Ela também discursou na conferência, mas reluta em se autodenominar pró-natalista. "É um movimento complicado, e inclui pessoas com posições muito diferentes", diz ela.
Uma coisa que elas têm em comum, no entanto, é que todas querem que sua mensagem repercuta nos níveis mais altos do governo.
Algumas pessoas acreditam que já estão sendo ouvidas. "[Se você me perguntar] se temos pró-natalistas na Casa Branca neste momento que estão promovendo políticas", diz Malcolm, "minha resposta seria: 'Quero dizer, claro, como Elon e J.D. Vance'".
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Legenda da foto, Elon Musk classificou o declínio da fecundidade como 'a maior ameaça que a civilização enfrenta, de longe'
Nas ordens executivas do presidente Trump até o momento, houve pouca coisa, além do decreto sobre fertilização in vitro, que pudesse ser vista como diretamente pró-família. Mas o pensamento pró-natalista pode estar começando a influenciar políticas menos explícitas sobre fecundidade.
Em janeiro, o secretário de Transportes dos EUA, Sean Duffy, divulgou um memorando instruindo seu departamento a "dar preferência a comunidades com taxas de casamento e natalidade mais altas do que a média nacional" ao conceder subsídios.
Roger Severino, vice-presidente de política interna do think tank de direita Heritage Foundation, vê a influência de J.D. Vance nessa política. "Vance tem uma longa história de pensamento e formulação de políticas pró-família", ele observa.
O vice-presidente tem falado com frequência sobre a necessidade de consertar uma "cultura partida" que está destruindo a família dos EUA ao enfraquecer os homens.
Em uma entrevista recente, ele disse: "Na verdade, achamos que Deus criou o homem e a mulher com um propósito, e queremos que vocês prosperem como homens e mulheres jovens, e vamos ajudar com nossas políticas públicas a tornar isso possível".
Essa ideia tem ecoado nos círculos pró-natalistas.
"Vance é um pró-natalista eloquente", diz Rachel Cohen, correspondente de política do site de notícias Vox. "O próprio Trump fez campanha para implementar um novo 'baby boom' e, na semana passada, ele se declarou o 'presidente da fertilização'."
Os pró-natalistas que elaboram ordens executivas
Malcolm diz que já fez tentativas de influenciar a Casa Branca. Ele afirma ter se envolvido em "conversas com pessoas influentes nos bastidores, certificando-se de que o pró-natalismo se tornasse um assunto normal nos centros de poder, e que acabasse chegando ao governo e à cultura tecnológica central".
Eles estão discutindo a política pró-natalista com a Heritage Foundation. Há também uma abordagem um pouco mais direta que eles afirmam ter adotado. "Apresentamos minutas de ordens executivas ao governo Trump", diz Simone.
Entre as propostas deles, estão sugestões de como remover camadas de regulamentação dos prestadores de cuidados infantis e expandir a escolha de assentos de carro para que os veículos possam acomodar mais crianças.
O casal ainda não tem certeza se essas propostas vão se traduzir em algo concreto — mas acredita que há um público receptivo.
A conexão deles com o poder se dá graças à chamada direita tecnológica, um movimento reacionário contra o liberalismo liderado por algumas das pessoas mais poderosas do Vale do Silício. Entre os membros da direita tecnológica, estão Peter Thiel, cofundador do Paypal — que patrocinou a candidatura de Vance ao Senado e investiu em tecnologia para fertilidade —, e os investidores de capital de risco David Sacks e Marc Andreessen.
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Legenda da foto, O empreendedor Peter Thiel, cofundador do Paypal, investiu em empresas que desenvolvem tecnologia para fertilidade
Simone Collins já foi diretora de um clube exclusivo administrado por Thiel, e o casal afirma ter administrado dois outros grupos de networking somente para convidados, destinados às elites empresariais. Sua Pronatalist Foundation, fundada em 2021, recebeu pouco menos de US$ 500 mil (R$ 2,8 milhões) por meio de um fundo do cofundador do Skype, o bilionário estoniano Jann Tallinn.
"A direita tecnológica traz muita energia para a discussão", diz Roger Severino, da Heritage Foundation. "Estamos discutindo como podemos misturar essas várias correntes da direita. Estamos tentando dar coerência ao movimento."
Fissuras na aliança pró-natalista
Há, no entanto, fissuras na aliança que aumentam o desafio de tentar tornar o movimento "coerente".
Muitos da direita religiosa tradicional têm dúvidas sobre o uso da fertilização in vitro e discordam da triagem de embriões, enquanto alguns também se opõem ao casamento e à paternidade gay.
"É simplesmente uma estranha aliança de pessoas que parecem concordar em um ponto: que a taxa de natalidade está muito baixa. Mas há receitas e ideias muito diferentes sobre o que pode ser feito para corrigir isso", explica Pakaluk.
"Há um interesse renovado no pró-natalismo e na promoção da família entre os conservadores americanos", diz Timothy Carney, autor do livro Family Unfriendly, How our Culture Made Raising Kids Much Harder than it Needs to Be ("Família hostil, como nossa cultura tornou a criação dos filhos muito mais difícil do que deveria ser", em tradução livre). Mas ele acrescenta: "Com certeza haverá tensões".
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Legenda da foto, Vance discursou para uma multidão na Marcha pela Vida contra o aborto
Uma das questões mais polêmicas do pró-natalismo é a menção de certos aspectos relacionados à genética entre alguns de seus proponentes da direita tecnológica. É algo que tem gerado preocupação, principalmente em relação à ética, em todos os lados do espectro político.
Patrick T. Brown, pesquisador do Centro de Ética e Política Pública, instituto americano de direita, que trabalha com políticas pró-família, sugere que a ordem executiva para melhorar o acesso à fertilização in vitro pode mostrar a influência da direita tecnológica nas políticas. Mas ele tem suas preocupações quanto a essa influência, especialmente em relação à triagem de embriões. "Transformar crianças em produtos de consumo é algo que realmente me preocupa", diz ele. "Isso leva a um lugar problemático."
Alguns dos participantes da recente conferência se descrevem como "realistas raciais", e um deles publicou opiniões ofensivas alegando uma relação entre inteligência e raça que, de acordo com muitos cientistas, são completamente equivocadas.
O geneticista Adam Rutherford descreve os dados usados como "fraudulentos e racistas, extraídos de amostras de tamanho inútil que não constituiriam evidência científica válida para qualquer pessoa vagamente interessada na verdade".
"Essas afirmações são recapitulações de ideias históricas de racismo científico."
As associações do movimento com visões extremistas são um dos motivos pelos quais algumas pessoas não gostam de se chamar de pró-natalistas. Catherine Pakaluk é uma delas. "Acho que provavelmente há algumas pessoas que simplesmente são puros eugenistas ou supremacistas brancos", diz ela.
"Acho isso repulsivo e repreensível, e não tenho interesse em me alinhar jamais com pessoas assim."
Será que a controvérsia pode se traduzir em soft power?
A questão que permanece é: em que pé tudo isso deixa os pró-natalistas — e quanto poder eles exercem?
De acordo com alguns analistas, seu impacto já está sendo sentido.
"Definitivamente, há uma forte influência dos pró-natalistas na Casa Branca de Trump", afirma Cohen.
"Acho que uma questão pendente é como tudo isso vai se sobrepor aos esforços para restringir o controle de natalidade e a contracepção, e como isso vai afetar os debates sobre gastos, como o financiamento de creches."
Carney é mais cauteloso: "Vance é muito pró-família e muito pró-natalista, e ele quer que o governo promova as famílias e ajude a aumentar a taxa de natalidade — mas J.D. Vance não é o presidente. Não acho que Donald Trump tenha uma convicção forte sobre isso".
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Legenda da foto, Os pró-natalistas, como a família Collins, há muito tempo buscam os holofotes — mas desde que Trump tomou posse pela segunda vez no início deste ano, sua evangelização atingiu um novo patamar
Ele também acredita que pode haver resistência a algumas políticas pró-família, ressaltando que pelo menos alguns dos republicanos no controle do Congresso não gostam da ideia de apoio familiar. "Eles acham que isso é assistência social para quem não merece".
A atenção obtida pelos Collins e pela recente conferência é indiscutível. Mas um especialista sugere que eles estão fazendo pouco mais do que despertar controvérsias.
"Se você for ao Capitólio e conversar com membros do Congresso ou governadores de Estados americanos, eles não necessariamente reconhecem o problema", argumenta Brown.
Segundo ele, "os incentivos da internet" nem sempre são os incentivos de um movimento de massa bem-sucedido. "E o que chama a atenção é a provocação, a ousadia e o fato de passar dos limites. Isso gera cliques, isso gera seguidores.
"[Mas], para mim, não é assim que você acaba mudando a dinâmica política."
Legenda da foto, Carretera Austral, no ChileArticle information
Author, Redação
Role, BBC News Mundo
Há 27 minutos
"Quando você empreender sua viagem para Ítaca, peça para que o caminho seja longo, cheio de aventuras, cheio de experiências..."
Assim começa o poema Ítaca, em que o poeta grego Konstantinos Kavafis (1863-1933), evocando a lendária ilha à qual Ulisses tanto lutou para regressar em A Odisseia, nos convida a recordar que o destino é sempre importante, mas o que nos enriquece é o caminho que nos leva até lá.
E o caminho físico, nos nossos tempos, muitas vezes é uma estrada.
Existem estradas comuns, mas outras são tão chamativas ou estranhas que se transformaram em algo mais do que uma simples conexão entre o ponto A e o ponto B.
Muitas estradas são atrações famosas por si próprias, como a Rota Jardim, na África do Sul; a Grande Estrada Oceânica da Austrália; a estrada de circunvalação da Islândia; e a Pacific Coast Highway, na Califórnia (Estados Unidos).
É claro que a lista é muito maior. Vamos percorrer apenas um trecho dela, nesta curta viagem por estradas incríveis.
Nosso ponto de partida é a beleza e o destino, a música. Vamos lá!
1. Carretera Austral, Chile
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Legenda da foto, A Carretera Austral com o azul profundo do lago General Carrera e os Andes nevados ao fundo, na região de Aysén, na província de Santa Cruz (Patagônia chilena)
A Carretera Austral se estende ao longo de 1.240 km pela zona rural da Patagônia chilena. Ela começa na cidade litorânea de Puerto Montt, ao norte.
Sua construção foi iniciada em 1976, mas ela só foi concluída no ano 2000, devido aos riscos e às dificuldades do terreno. A estrada foi construída por cerca de 10 mil pessoas do Comando de Engenharia do Exército chileno e muitos perderam a vida no processo.
A Carretera Austral atravessa bosques nativos com tom verde intenso. Entre seus animais silvestres, está o pudu – o menor veado do mundo, com apenas 35 a 45 cm de altura.
Os condores planam sobre o cume das montanhas. As bicadas do pica-pau ressoam entre as árvores imponentes e os beija-flores revoam entre as fúcsias e as gigantescas folhas de nalca, que crescem até dois metros de altura.
À medida que a estrada avança em direção ao sul, a paisagem muda para a tundra patagônica, com amplos vales herbáceos e planaltos cobertos de arbustos, intercalados por lagos e pântanos.
A Carretera Austral e suas estradas de acesso atravessam dois parques nacionais: o Parque Nacional Hornopirén, dominado por vulcões, e o Parque Nacional Queulat, com seu espetacular glaciar suspenso, de onde caem regularmente pedaços de gelo sobre o lago de cor azul-celeste.
Antes de chegar ao final do trajeto, na localidade remota de Villa O'Higgins, a estrada atravessa uma terra de lagos azuis gelados. O Lago General Carrera é hipnotizante, com sua intensa coloração azul-turquesa.
Resumidamente, a Carretera Austral, sem dúvida, é uma das mais belas rotas cênicas do mundo.
2. Estrada Tongtian, China
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Legenda da foto, A rodovia no sul da China é conhecida como a 'Estrada para o Céu'
Outra paisagem imponente pode ser vista no percurso da estrada Tongtian, em Zhangjiajie, na província de Hunan (sul da China).
Mas, se você for o motorista, é preciso manter os olhos muito fixos na estrada. Com 99 curvas fechadas, ela é considerada uma das mais perigosas do mundo.
Serpenteando por profundas escarpas no seu caminho até a montanha Tianmen, a estrada se eleva de 200 até 1,3 mil metros acima do nível do mar.
A construção da estrada levou oito anos, de 1998 a 2006. Vista de cima, ela parece uma caprichosa fita branca desenhada por um artista em meio às encostas escarpadas, vales frondosos e densos bosques.
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Legenda da foto, O buraco na montanha é chamado de 'Porta do Céu'
Apesar da nossa proposta de nos concentrarmos no caminho, é difícil deixar de mencionar o destino desta estrada, também conhecida como "Estrada para o Céu".
As 99 curvas conduzem aos 999 degraus da "Escada para o Céu", que levam à caverna de Tianmen (天门), que significa "Porta do Céu", em mandarim.
O buraco natural a cerca de 131,5 metros de altitude, com 57 metros de largura e 60 metros de profundidade, é uma maravilha natural cativante.
3. Estrada Atlântica da Noruega
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Legenda da foto, A ponte é curva e inclinada, com belas vistas à sua volta
Esta não é uma ponte qualquer. É a ponte Storseisundet, a mais famosa das oito pontes ao longo da Estrada Atlântica da Noruega.
A ponte é o local mais fotografado da rodovia. Ela tem 260 metros de comprimento e parece mais uma montanha russa.
A estrada é conhecida simplesmente como Estrada do Atlântico. Ela tem 8 km de comprimento, conecta as cidades de Kristiansund e Molde, na Noruega dos fiordes, e une a ilha de Averøy ao continente, através de uma série de pequenas ilhas e enseadas.
Ela foi designada uma das 18 estradas cênicas nacionais. A rodovia é considerada bela, mas também perigosa, devido às suas voltas, curvas e desníveis.
A estrada foi inaugurada em 1989. Recomenda-se aos turistas que reservem tempo para percorrê-la, estacionando em cada um dos locais de parada designados para desfrutar da sua paisagem impressionante.
4. Túnel de Guoliang, China
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Legenda da foto, O túnel inclui 30 janelas voltadas para o precipício
Neste trecho de estrada, é conveniente olhar para frente, não para baixo. Ou talvez seja melhor evitá-lo por completo.
Por que foi construído o túnel de Guoliang?
Guoliang é uma aldeia isolada no alto de uma escarpa a 1,7 mil metros de altitude, nas montanhas Taihang, no centro da China. Seus moradores estavam insatisfeitos porque só era possível chegar à aldeia escalando as encostas encarpadas e uma série de degraus de pedra.
Por isso, em 1972, um grupo de moradores locais começou a construir por si próprios o túnel de 1,2 km. Foi uma façanha incrível que levou cinco anos.
Sua nova estrada media apenas quatro metros de largura e era muito perigosa, especialmente depois de chuvas fortes.
Por outro lado, a fachada de pedra do túnel conta com 30 "janelas", que permitem vislumbrar o vale que se estende ao longe.
Agora, o túnel e a aldeia atraem intrépidos visitantes de todo o mundo.
5. Carrossel Mágico, Inglaterra
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Legenda da foto, Neste local no sudoeste da Inglaterra, você precisa resolver um quebra-cabeça para chegar aonde deseja
Já aconteceu, ao andar de carro, que você parecia dar voltas em círculos? Pois, no Carrossel Mágico, não existe outra opção.
Ele fica em Swindon, no sudoeste da Inglaterra. E não é uma única rotatória. Ela é formada por cinco minirrotatórias, que circundam a rotunda central.
Inaugurado em 1972, ele recebeu inicialmente das autoridades locais o nome de Ilhas do Condado.
Mas os moradores de Swindon começaram a chamá-lo carinhosamente de "Magic Roundabout" ("Carrossel Mágico", em português), que era o nome de um programa infantil, apresentado pela BBC entre 1965 e 1977.
No início da década de 1980, o apelido passou a ser o nome oficial da estrada. E, em 2024, o Carrossel Mágico conquistou o prêmio de Rotatória do Ano no Reino Unido.
O presidente da Sociedade de Apreciação de Rotatórias do Reino Unido (sim, ela existe!), Kevin Beresford, homenageou o Carrossel Mágico.
Para ele, "algo simplesmente assombroso acontece quando você se aproxima".
"Você fica deslumbrado com toda esta coreografia de carros", diz Beresford.
6. Rodovia Nacional 237, Argentina
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Legenda da foto, A música repentina deixa mais despertos os motoristas cansados da longa viagem
Em algum lugar da Patagônia argentina, mais precisamente no km 1449 da Rodovia Nacional 237, você pode ter uma experiência inesperada.
Passando pelo caminho que liga as cidades de Neuquén e Bariloche, de repente, você encontra notas musicais gigantes pintadas sobre o asfalto. Elas anunciam que você está a ponto de chegar à "estrada argentina que canta".
Em parte, a rodovia depende de você para cantar. É preciso dirigir sobre finas faixas de frenagem, a uma velocidade determinada, para produzir vibrações harmônicas que, juntas, formam uma canção.
Criado em 2021, ela é o primeiro – e, até agora, o único – "asfaltofone" da América do Sul.
O asfaltofone foi idealizado em 1995 no povoado de Gylling, na Dinamarca. Dois artistas dinamarqueses desenharam uma série de marcadores circulares em relevo, que produziam sons quando alguém circulava sobre eles.
Desde então, as faixas de concreto usadas para que os motoristas reduzam a velocidade ou se mantenham acordados e atentos em trechos monótonos se transformaram em música em vários lugares do mundo.
Japão, Rússia, Coreia do Sul, Emirados Árabes Unidos e Hungria são alguns dos países que surpreendem os viajantes com esta sinalização encantadora.
Em plena travessia, usando o carro como instrumento, você pode ouvir diversas músicas. Na China, por exemplo, é executado um trecho do Hino à Alegria, de Beethoven; e, na Argentina, a canção escolhida é a popular La Cucaracha.
Legenda da foto, Países com ainda menos comércio com os EUA, como a Síria, que exportou US$ 11 milhões em mercadorias no ano passado, de acordo com dados da ONU citados pela Trading Economics, aparecem na lista.Article information
Author, Vitaliy Shevchenko
Role, Editor de Rússia, BBC Monitoring
Há 44 minutos
Um país que não apareceu na lista de tarifas impostas por Donald Trump aos parceiros comerciais dos EUA foi a Rússia.
A agência de mídia americana Axios citou a secretária de imprensa da Casa Branca, Karoline Leavitt, explicando que isso ocorreu porque as sanções existentes dos EUA contra a Rússia "impedem qualquer comércio significativo" e observou que Cuba, Belarus e Coreia do Norte também não foram incluídas.
No entanto, países com ainda menos comércio com os EUA, como a Síria, que exportou US$ 11 milhões em mercadorias no ano passado, de acordo com dados da ONU citados pela Trading Economics, aparecem na lista.
Os EUA impuseram sanções em grande escala à Rússia após sua invasão da Ucrânia em 2022. Em geral, Trump adotou uma atitude mais amigável em relação à Rússia desde seu retorno à Casa Branca.
Trump priorizou o fim da guerra e uma autoridade sênior russa está em Washington para se reunir com seu governo enquanto as negociações para um acordo continuam.
No mês passado, Trump ameaçou impor uma tarifa de 50% sobre os países que compram petróleo russo se o presidente Vladimir Putin não concordar com um cessar-fogo.
Na quinta-feira, a mídia russa também afirmou que o país não estava na extensa lista de tarifas devido às sanções existentes.
"As tarifas não foram impostas à Rússia, mas não por causa de um tratamento especial. É simplesmente porque já existem sanções ocidentais contra nosso país", disse a emissora estatal Rossiya 24 TV.
De acordo com seu canal irmão Rossiya 1, a Rússia não está na lista "para a decepção de muitos no Ocidente".
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Legenda da foto, Alguns meios de comunicação russos adotaram um tom de zombaria em sua cobertura dos comentários de Trump.
Vários meios de comunicação controlados pelo Kremlin se referiram especificamente ao secretário do Tesouro dos EUA, Scott Bessent, que disse à Fox News: "Não fazemos comércio com a Rússia ou Belarus. Eles estão sujeitos a sanções.
De acordo com o Escritório do Representante Comercial dos EUA, o comércio entre os EUA e a Rússia atingiu um valor de US$ 3,5 bilhões em 2024. Esse comércio consistia principalmente de fertilizantes, combustível nuclear e alguns metais, de acordo com a Trading Economics e a mídia russa.
A mídia russa adotou um tom de zombaria em sua cobertura. O canal pró-Kremlin NTV afirmou que Trump tratou os aliados dos EUA na Europa como "servos" que só respondem "bufando".
Muitos canais, como a Zvezda TV, administrada pelo Ministério da Defesa da Rússia, destacam a inclusão das desabitadas ilhas Heard e McDonald na lista de tarifas.
"Parece que alguns pingüins terão que pagar a tarifa de 10%", disse Zvezda.
Uma tarifa de 10% para a Ucrânia
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Legenda da foto, O canal Rossiya 1 disse que a Rússia não está na lista de Trump "para a decepção de muitos no Ocidente".
A Ucrânia, por sua vez, enfrenta uma tarifa de 10% sobre suas exportações para os EUA.
A vice-primeira-ministra do país, Yulia Svyrydenko, disse que a nova tarifa dos EUA afetaria principalmente os pequenos produtores.
Ele também indicou que a Ucrânia estava "trabalhando para obter melhores condições".
Em 2024, a Ucrânia exportou US$ 874 milhões em mercadorias para os EUA e importou US$ 3,4 bilhões, de acordo com o vice-primeiro-ministro.
"A Ucrânia tem muito a oferecer aos EUA como um aliado e parceiro confiável", acrescentou. "Tarifas justas são do interesse de ambos os países".
Apesar da pequena escala do comércio, os EUA forneceram apoio material significativo na guerra contra a Rússia.
Trump argumentou que o país gastou entre US$ 300 bilhões e US$ 350 bilhões com essa ajuda, enquanto o Departamento de Defesa dos EUA afirmou que US$ 182,8 bilhões - valor que cobre o treinamento militar dos EUA na Europa e a reposição dos estoques de defesa dos EUA - foram alocados para a Operação Atlantic Resolve.
Os EUA também estão tentando chegar a um acordo sobre o acesso aos minerais ucranianos como parte das negociações para acabar com a guerra.