O ator norte-americano Eric Dane anunciou na quinta-feira (10) que foi diagnosticado com esclerose lateral amiotrófica (ELA), também conhecida uma vez que Doença de Lou Gehrig.
“Sou grato por ter minha amada família ao meu lado enquanto navegamos neste próximo capítulo”, disse o ator de “Grey’s Anatomy” em um expedido à People.
“Me sinto afortunado por poder continuar trabalhando e estou ansioso para retornar ao set de ‘Euphoria’ na próxima semana. Peço gentilmente que deem privacidade a mim e à minha família durante este período”, disse o ator à publicação.
A ELA é uma doença neurodegenerativa progressiva que afeta as células nervosas do cérebro e da medula espinhal que fazem os músculos da segmento superior e subalterno do corpo funcionarem, de negócio com a ALS Association, uma organização sem fins lucrativos que trabalha para pesquisar a doença e oferecer recursos para pessoas que vivem com ela. Atualmente, não há tratamento conhecida.
Em “Euphoria”, Dane interpreta Cal Jacobs, o pai problemático do personagem de Jacob Elordi no drama da HBO, que tem previsão de iniciar a produção de sua terceira temporada em 14 de abril.
Ele alcançou a notabilidade uma vez que o charmoso Dr. Mark “McSteamy” Sloan em “Grey’s Anatomy” de 2006 a 2012. Os créditos de Dane também incluem papéis em filmes uma vez que “Bad Boys: Até o Fim”.
Dane é casado com a atriz Rebecca Gayheart desde 2004. O par tem dois filhos.
A 24ª edição do Coachella Valley Music and Arts Festival começa nesta sexta-feira (11), no Empire Polo Club, localizado na cidade de Indio, no estado norte-americano da Califórnia. O primeiro termo de semana do evento vai até domingo (13) e terá nomes porquê Lady Gaga, Travis Scott, Green Day e Post Malone.
A voz de “Shallow” e “Bad Romance” é a principal atração desta sexta-feira, que contará ainda com shows de Parcels, Missy Elliott, Benson Boone, Tyla, Marina, Vintage Culture e Artemas. Os shows serão transmitidos no canal oficial do festival no YouTube e começam às 17h (horário de Brasília).
A grande expectativa do primeiro dia de apresentações está depositada no show de Lady Gaga, que pisará pela segunda vez no palco do Coachella. Se em 2017 ela foi chamada às pressas para substituir Beyoncé e teve poucos dias para apresentar o show, dessa vez a cantora figura no line-up desde o primeiro pregão.
“Há muito tempo sonho em fazer uma noite de caos no deserto. Eu tive uma visão que nunca consegui realizar totalmente no Coachella por razões fora do nosso controle, mas eu queria aparecer para os fãs de música. Eu queria voltar e fazer direito, e vou fazer”, escreveu Lady Gaga em uma publicação feita em seu perfil solene do Instagram.
Esse será o primeiro show da era do álbum “Mayhem”, lançado pela cantora norte-americano em março. A base da apresentação deve ser a mesma que Lady Gaga usará para montar o show que fará nas areias da Praia de Copacabana no dia 3 de maio.
O pontapé iniciado para a realização do Coachella foi oferecido por um show do Pearl Jam, que se recusou a tocar em Los Angeles em 1993 e se apresentou no lugar, conforme noticiou a Billboard. O evento credenciou o lugar a receber show de grande porte, o que levou à primeira edição do festival.
De lá para cá, o Coachella já recebeu nomes de peso, porquê Beyoncé, Jay-Z, Kanye West, Prince e Paul McCartney. Em 2023, os headliners foram Bad Bunny, Blackpink, Frank Ocean e Blink-182.
Confira a programação dos principais shows desta sexta (11)
Coachella Stage
21h40 — Marina
23h05 — Benson Boone
1h — Missy Elliott
3h10 — Lady Gaga
Outdoor Theatre
22h45 — Tyla
2h20 — The Marías
2h10 — Parcels
Gobi
0h15 — Artemas
1h30 — Ca7riel & Paco Amoroso
2h40 — Indo Warehouse
Sahara
23h45 — Lisa
2h25 — GloRilla
Yuma
Relembre: Pabllo Vittar foi a primeira drag queen a trovar no Coachella
Pelo menos duas pessoas foram presas na operação da Polícia Civil realizada nesta quinta-feira (10) no Rio de Janeiro e em São Paulo contra o Comando Vermelho (CV) e o Primeiro Comando da Capital (PCC).
A ação, que segue em andamento, faz parte da “Operação Contenção” e é considerada pela Polícia Civil do Rio a maior já feita pela corporação contra o núcleo financeiro do CV.
Um homem foi preso em São Paulo durante o cumprimento de um mandado de prisão por organização criminosa, lavagem de dinheiro, falsidade ideológica, evasão de divisas, uso de documento falso e operação de instituição financeira ilegal. No Rio, uma mulher foi presa em flagrante com uma celular roubado.
A Polícia Civil afirmou que durante a ação na comunidade do Fallet-Fogueteiro, em Santa Teresa, na zona sul, traficantes atacaram as equipes. Ao realizar uma manobra para sair da área dos disparos, um blindado se chocou contra dois veículos, incluindo uma van de transporte escolar. Não havia crianças a bordo e ninguém ficou ferido.
Pelas redes sociais, moradores publicaram imagens dos carros atingidos e reclamaram do prejuízo deixado pela polícia. Veja abaixo:
A Polícia identificou movimentação de R$ 6 bilhões, em apenas um ano, em contas suspeitas e pediu o bloqueio dos valores. Esse foi o maior pedido de bloqueio patrimonial da história da Polícia Civil do Rio de Janeiro.
Além disso, 46 mandados de busca e apreensão são cumpridos tanto na capital fluminense quanto em municípios do estado de São Paulo.
De acordo com a investigação, o núcleo financeiro do Comando Vermelho tem ramificações em São Paulo, com ligação direta com a facção criminosa Primeiro Comando da Capital (PCC). Até pouco tempo, as duas facções eram consideradas rivais ferrenhas.
Para lavar o dinheiro do tráfico de drogas, as facções usam uma rede estruturada que inclui bancos digitais, fintechs, intermediadoras de pagamento ilegais, empresas de fachada e plataformas contábeis, tudo sem autorização do Banco Central.
A operação desta quinta é para asfixiar financeiramente o crime organizado, pra atingir a base logística, e cortar o dinheiro que é usado para compra de armas e drogas, além dos recursos que também financiam as disputas por expansão territorial em comunidades da zona oeste do Rio.
Várias delegacias especializadas do Rio participam da ação, além da Coordenadoria de Recursos Especiais (CORE), a tropa de elite da Polícia do Rio, e a Polícia Civil de São Paulo.
Rota da Seda: o papel estratégico da Ásia Central, disputada por China e Rússia
Uma região de posição estratégica, entre a Rússia e a China, a Ásia Central é conhecida como parte crucial da Rota da Seda histórica, dos tempos de Marco Polo. Séculos mais tarde, esse grupo de países entrou para a esfera da União Soviética. Agora, essa região - composta por Cazaquistão, Uzbequistão, Tadjiquistão, Quirguistão e Turcomenistão - volta a ganhar proeminência, num momento em que a China revive a Rota da Seda com grandes investimentos e em que a Rússia tenta ampliar sua influência geopolítica global. Nesta reportagem especial, a BBC explica a fascinante história da Ásia Central.
Em abril, em apenas uma semana, a cidade de Teresópolis, no interior do estado do Rio de Janeiro, registrou 466,4 milímetros (mm) de acumulado de chuva — o maior acumulado do Brasil para o mês, de acordo com dados do Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet).
O município não é o único carioca na lista com maiores acumulados de chuva, feita a pedido da CNN. As fortes chuvas que atingiram o estado nos últimos dias colocaram cinco municípios fluminenses entre os dez que registraram mais chuva até a tarde desta segunda-feira (7).
A cidade de Pico do Couto (RJ) ocupa o terceiro lugar no ranking, com 213, 4 mm de chuva. Na sequência estão Nova Friburgo (RJ), com 195, 2 mm e Seropédica com 189,2 mm. Em oitava posição está Macaé (RJ), que registrou 156, 4 mm. Veja a lista completa:
Teresópolis (RJ): 466, 4
Boca do Acre (AM): 218,8
Pico do Couto (RJ): 213, 4
Nova Friburgo (RJ): 195, 2
Oiapoque (AP): 170,6
Turiaçu (MA): 158
Macaé (RJ): 156, 4
Alfredo Chaves (ES): 145,2
Feijo (AC): 144,6
Desde a última sexta-feira (4), a Defesa Civil e o Corpo de Bombeiros do Estado do Rio de Janeiro atenderam 568 ocorrências relacionadas às fortes chuvas que atingiram diversas regiões do território fluminense.
Entre os chamados, estão o atendimento de 81 vítimas, 313 cortes de árvores, 174 salvamentos de animais, 37 ocorrências de alagamentos e 18 de deslizamentos de terra.
O governo do Rio de Janeiro mobilizou uma força-tarefa, que contou com o trabalho de mais de 6,5 mil agentes em todo o estado.
Legenda da foto, Imagem capturada na selva por uma armadilha fotográfica em 2024Article information
Author, Margarita Rodríguez
Role, BBC News Mundo*
Há 38 minutos
Eles querem conhecê-los, protegê-los, mas sem falar com eles, nem olhá-los nos olhos. Eles estão na Amazônia, e entrar em contato com eles não é uma opção.
Diante deste desafio, especialistas usaram armadilhas fotográficas — câmeras que são ativadas pelo movimento — para obter uma imagem de um povo indígena que vive no Estado de Rondônia, perto da fronteira com a Bolívia.
Eles são chamados de Massaco, mas os pesquisadores não sabem como eles se identificam. O nome Massaco vem do rio que atravessa suas terras.
"A Terra Indígena Massaco foi o primeiro território indígena demarcado exclusivamente para povos isolados", explicou Janete Carvalho, diretora de Proteção Territorial da Fundação Nacional do Índio (Funai), à BBC News Mundo, serviço de notícias em espanhol da BBC.
A Funai trabalha há décadas para proteger estas terras, e impedir que seus habitantes sejam contatados.
Altair Algayer, coordenador da Funai nesta região, se dedica há 30 anos a esta missão.
"Agora, com fotografias detalhadas, é possível perceber a semelhança com o povo Sirionó, que vive na margem oposta do Rio Guaporé, na Bolívia", observou Algayer em uma reportagem publicada no jornal britânico The Guardian.
"Mas ainda não conseguimos determinar quem eles são. Há muita coisa que continua sendo um mistério", ele acrescentou.
A Funai compartilhou com a BBC News Mundo as imagens capturadas em fevereiro de 2024, além de outras registradas quando os Massaco já haviam abandonado completamente os assentamentos temporários.
Para obter estas fotos, os especialistas usaram não apenas o conhecimento adquirido sobre os movimentos sazonais da comunidade, mas também imagens de satélite.
Mais de 200 pessoas
A reportagem do Guardian, intitulada Photographs reveal first glimpse of uncontacted Amazon community ("Fotografias revelam a primeira visão de uma comunidade amazônica isolada, em tradução livre), foi escrita por John Reid, coautor do livro Ever Green: Saving Big Forests to Save the Planet ("Sempre verde: Salvando as grandes florestas para salvar o planeta", em tradução livre), e Daniel Biasetto, editor do jornal O Globo.
Crédito, CGIIRC/Funai
Legenda da foto, Nesta imagem, também de 2024, você pode ver um facão que membros da Funai deixaram para a comunidade
Ambos escreveram outra reportagem, também publicada em dezembro, no jornal britânico: New images show Brazil's uncontacted people are thriving – but with success comes a new threat ("Novas imagens mostram que os povos isolados do Brasil estão prosperando – mas com o sucesso vem uma nova ameaça", em tradução livre).
Nela, eles explicam que, em 1987, especialistas da Funai chegaram a uma conclusão devastadora: "As doenças e a miséria resultantes do contato pacífico eram catastróficas para os povos isolados, e estabeleceram a atual política de não contato da instituição".
Os Massaco são um dos 28 povos isolados do Brasil dos quais há confirmação.
Janete Carvalho conta à BBC News Mundo que a fundação soube da existência desta comunidade em outubro de 1988, quando uma de suas equipes encontrou os primeiros vestígios da presença dela: pegadas, trilhas, pontos de coleta de alimentos e atividades de caça.
"Não temos dados demográficos exatos sobre este povo, mas observando os vestígios deixados por eles, o tamanho e o número de habitações, chegamos a uma estimativa aproximada de 220 a 270 pessoas."
Algayer havia calculado, no início da década de 1990, uma população de 100 a 200 pessoas.
De acordo com Carvalho, os membros da comunidade ocupam todo o território da Terra Indígena Massaco, que tem cerca de 421 mil hectares.
"Eles até estendem a ocupação para uma parte (1/4 da área) da Terra Indígena Rio Branco que faz fronteira com a Terra Indígena Massaco."
A câmera automática
Como a política da Funai é não estabelecer contato com os membros desta comunidade, eles decidiram instalar armadilhas fotográficas em locais estratégicos.
E assim, em 2019, eles colocaram um destes dispositivos "mais para o centro da área", depois de realizar uma expedição de monitoramento, com o objetivo de obter algo que não tinham: uma imagem deste povo, e conseguiram.
Mas este não era o único objetivo; eles também queriam entender o comportamento dos membros daquele grupo após sua passagem por aquela área.
As novas imagens, de 2024, foram capturadas com uma câmera que estava instalada na região desde janeiro de 2021, conta Carvalho.
Os indígenas se aproximaram e pegaram alguns machados e facões que a equipe da Funai havia deixado em uma trilha em 2021.
Crédito, CGIIRC/Funai
Legenda da foto, Os indígenas que a armadilha fotográfica registrou em 2024 eram, em sua maioria, jovens
"O equipamento fotográfico estava à vista de todos e, mesmo assim, permaneceu intacto. Os indígenas não se aproximaram nem sequer por curiosidade", informou a Funai em comunicado.
O dispositivo registrou um grupo de nove indígenas, todos homens, com idade estimada entre 20 e 40 anos. A maioria deles era jovem.
"Apesar das condições climáticas que comprometeram a nitidez das imagens, o registro foi essencial para documentar características físicas, comportamento, postura, entre outros aspectos."
Antes de deixar a área, os indígenas deixaram para trás algumas "armadilhas cortantes", lascas de madeira com uma extremidade pontiaguda como esta:
Crédito, CGIIRC/Funai
Os pesquisadores as identificaram como uma espécie de abrolho (estrepe) que é fincado no solo com a ponta voltada para fora.
De acordo com a antropóloga, eles colocam as armadilhas em trilhas e em locais estratégicos, como atrás de um tronco, uma raiz ou um barranco.
"São locais onde necessariamente se apoia ou se coloca o peso do corpo sobre os pés. Alguns são camuflados com folhas ou gramíneas", explica a especialista.
Crédito, CGIIRC/Funai
Legenda da foto, Nas trilhas, é possível encontrar estas armadilhas
"Um ferimento perfurante no pé se torna inevitável, mesmo se a pessoa estiver de sapato, e pode causar lesões graves."
A especialista conta que as décadas de 1980 e 1990 foram uma época em que havia movimentação de pessoas e carros dentro da reserva.
"As estrepes, as armadilhas indígenas, furavam os pneus das caminhonetes, inclusive da Funai, do Ibama e da Polícia Federal, assim como de caminhões e até tratores de madeireiros."
Em 2024, após colocar as armadilhas, o grupo se retirou imediatamente daquela área, e entrou na reserva.
Algayer acredita que a incursão indígena naquela área foi "uma abordagem planejada e organizada".
Habitações e flechas
Carvalho ressalta que as habitações são típicas de povos caçadores-coletores.
"A maioria dos movimentos de seus membros está associada às mudanças sazonais da região — seca e chuva — e às variações na vegetação: entre campos, cerrado e selva densa."
"Desta forma, eles desenvolvem uma gestão dos recursos naturais, delimitando seu território de ocupação dentro de um sistema nômade."
Crédito, CGIIRC/Funai
Legenda da foto, Moradias temporárias que os Massaco constroem com folhas de palmeira de babaçu
Crédito, CGIIRC/Funai
Legenda da foto, A palmeira de babaçu é nativa da Floresta Amazônica
Crédito, CGIIRC/Funai
Legenda da foto, As redes podem medir até 2 metros de comprimento
O comprimento das flechas que os pesquisadores encontraram, em acampamentos abandonados, é de mais de 3 metros — e há algo que os intriga.
"O tamanho da flecha e do arco não é realmente um mistério, outros povos também os utilizam, como os Sirionó da Bolívia, que têm arcos semelhantes.
Mas há uma questão que "nunca desaparece", diz a antropóloga: "Como eles manejam os longos arcos e flechas no meio da selva e do cerrado?"
"Sabemos que eles matam muitos animais: macacos, queixadas, antas, veados, entre outros, que não são fáceis de matar de outra maneira."
Crédito, CGIIRC/Funai
Legenda da foto, O comprimento das flechas é de mais de 3 metros
Algayer observou, na reportagem do Guardian, que "não tinha ideia" de como eles disparavam as flechas.
"Outros povos indígenas também tentam entender, eles riem e dizem que é impossível. Talvez deitados, eles dizem, mas até hoje não temos resposta para esse mistério".
Os desafios de proteger sem entrar em contato
"A Terra Indígena Massaco foi o primeiro território indígena demarcado exclusivamente para povos isolados", observa Carvalho.
"Mas, ao mesmo tempo, outros povos desfrutaram da sua proteção e, posteriormente, foram demarcados territórios para eles."
"O desafio de demarcar o território para esses povos é entender todo o contexto histórico e a dinâmica de ocupação dos povos, sem poder conversar com eles. Inúmeras atividades de expedição são realizadas na floresta para coletar vestígios e informações de terceiros no entorno, a fim de delimitar o território".
É fundamental "garantir a autodeterminação e a autonomia dos povos isolados sem a necessidade de promover o contato e sem qualquer interferência em seus modos de vida", diz a Funai.
Crédito, CGIIRC/Funai
Segundo a especialista, atualmente não há "nenhuma ameaça latente no território" onde está localizada a comunidade de Massaco, "como exploração madeireira e outras atividades ilegais".
"A equipe da Funai, que está permanentemente no território, tem condições de garantir a proteção do território até mesmo na fronteira."
A organização conta com Bases de Proteção Etnoambiental localizadas em pontos estratégicos, que visam, entre outras coisas, a proteção física e social dos povos isolados.
Mas também a proteção ambiental, uma vez que "garantir a proteção integral dos recursos naturais deste território é fundamental para a sobrevivência destes povos", ressalta Algayer no comunicado da Funai.
O objetivo de deixar ferramentas de metal, como facões e machados, é facilitar as atividades de caça e coleta de alimentos, para que comunidades como esta, não precisem deixar seu território em busca de objetos semelhantes.
Pergunto a Carvalho se esta prática surtiu algum efeito.
"Surtiu o efeito de dar às pessoas mais acesso a essas ferramentas, mas ainda não sabemos se isso funciona para todos os indivíduos. Sabemos, no entanto, que isso não impede que os membros deste povo alcancem ou ultrapassem a fronteira. Pode haver outros motivos para isso."
Reid e Biasetto explicam que "estes presentes, antes usados para atrair as pessoas para o contato, agora são usados para evitá-lo".
"Esta prática, usada em outros territórios indígenas, dissuade povos isolados de irem às fazendas ou acampamentos de madeireiros para adquirir ferramentas", escreveram.
Crédito, CGIIRC/Funai
Legenda da foto, Um abrigo temporário que faz parte da dinâmica nômade da comunidade
As imagens mais recentes, somadas às informações coletadas ao longo dos anos, permitem que os especialistas continuem aprendendo sobre como esta comunidade indígena vive e se desenvolve, sem comprometer seu isolamento.
Você está otimista de que esta comunidade vai permanecer como está: sem estabelecer contato?, pergunto à antropóloga.
"Me sinto um pouco mais otimista enquanto o governo brasileiro puder garantir a proteção dos recursos deste território, dos quais estas pessoas dependem para sobreviver", ela responde.
"Mas as opiniões mudam de geração para geração, e em algum momento estas pessoas podem querer estabelecer contato."
"Devemos estar preparados para isso."
*Com a colaboração dos jornalistas Adriano Brito, Vitor Tavares e João Fellet, da BBC News Brasil.
Legenda da foto, Bolsas asiáticas despencaram nesta segunda-feira (07/04)
Há 42 minutos
Logo após a abertura, o índice Dax na Alemanha caiu quase 10%, enquanto o FTSE 100 em Londres teve uma redução de quase 6%.
Na China, o Shanghai Composite caiu mais de 8%, enquanto em Hong Kong o Hang Seng despencou 13% — o pior resultado em 28 anos.
As perdas das últimas horas seguem as quedas globais já registradas na semana passada.
A jornalista Mariko Oi, correspondente de Economia da Ásia da BBC News, classifica esta como "uma das maiores liquidações contínuas" que ela já viu em 20 anos de cobertura dos mercados de ações asiáticos.
Os índices futuros Dow Jones, dos EUA, também caíram acentuadamente, o que sugere uma queda importante em Wall Street quando o mercado americano abrir nas próximas horas.
Em falas recentes, Trump defendeu sua política de tarifas. Ele disse a repórteres que "às vezes você precisa tomar um remédio para consertar algumas coisas".
As quedas nos mercados asiáticos
Os principais mercados de ações da Ásia caíram em todos os setores.
A bolsa de Hong Kong teve o seu pior dia em 28 anos, com uma queda de 13,22%.
Este é o pior índice desde a crise financeira asiática de 1997, segundo a AFP.
Confira abaixo um resumo das quedas registradas nas últimas horas:
Nikkei 225 (Japão): -6,5%
Shanghai Composite (China continental): -6,4%*
ASX 200 (Austrália): -3,8%
Kospi (Coreia do Sul): -5,2%
Taiex (Taiwan): -9,7%*
STI (Singapura): -7,5%
Nifty 50 (Índia): -4,0%
Sensex (Índia): -3,7%
Dow Jones Futures (EUA ): -2,4%
*Esses mercados estavam fechados na sexta-feira (04/04) por causa de feriados locais.
A situação de momento na Europa
O índice de ações Dax da Alemanha caiu quase 10% no início do pregão, enquanto o FTSE 100 do Reino Unido teve uma redução de quase 6%.
Já o índice Cac 40 da França está registrando queda de 7%.
As ações de empresas de Defesa e do setor bancário tiveram algumas das maiores quedas até agora na Europa.
Na Alemanha, a fabricante de tanques Rheinmetall caiu quase 24%, enquanto no Reino Unido as ações da Rolls-Royce afundaram 12%.
As ações de Defesa subiram no início deste ano com as perspectivas de maiores gastos dos governos europeus.
Entre os bancos ingleses, as ações do Barclays caíram 8%, enquanto o NatWest teve uma diminuição de 7%.
Na Alemanha, o Commerzbank e o Deutsche Bank despencaram cerca de 10%.
Mas quase nenhuma empresa está escapando da liquidação das ações.
Preço das commodities também está em baixa
Enquanto todo o foco está nas quedas dramáticas do mercado de ações, os preços de commodities como petróleo e cobre também afundam.
Mas por que eles estão caindo?
A demanda por produtos como petróleo e cobre tende a aumentar quando a economia global vai bem, pois esses itens são necessários para fornecer energia e eles representam componentes-chave para muitas indústrias.
No entanto, a preocupação agora é que as tarifas dos EUA desacelerem o crescimento econômico global — ou talvez até mesmo desencadeiem uma recessão.
E isso, por sua vez, reduzirá a demanda por essas commodities.
O preço do petróleo bruto caiu cerca de 10% na semana passada.
Na manhã desta segunda-feira, houve uma nova redução de 4%.
Já o preço do cobre caiu cerca de 6% no início do pregão de segunda-feira antes de recuperar um pouco do preço.
Crédito, EPA
Legenda da foto, Tarifas anunciadas por Trump causaram quedas bruscas no mercado de ações
Na Ásia, aliados dos EUA sofrem tanto quanto a China
A China pode ter sido o principal alvo das últimas tarifas de Donald Trump, mas, a julgar pela reação do mercado, aliados dos Estados Unidos — como Japão, Coreia do Sul e Austrália — sofrem quase tanto quanto Pequim.
Desde a última quinta-feira (03/04), as ações de montadoras como Toyota, Honda e Nissan caíram drasticamente devido à taxa de 25% sobre todos os carros importados pelos EUA.
As ações bancárias do Japão também foram atingidas.
O primeiro-ministro japonês, Shigeru Ishiba, enfatizou repetidamente que o Japão é o maior investidor estrangeiro direto nos EUA — e, portanto, deve poder desfrutar de uma isenção de algumas das tarifas.
Mas até agora, as negociações de Tóquio com Washington não foram bem-sucedidas.
Como isso impacta a economia?
Dharshini David, editora de economia da BBC News, explica que as mudanças nos mercados não refletem, em grande parte, o que acontece no mundo real neste exato momento.
Mas nuvens tempestuosas se formam a partir das perspectivas econômicas, conforme o impacto das tarifas universais do presidente Trump começam a chegar ao mundo real.
O movimento de ações, o preço do petróleo e mais fatores são amplamente impulsionados pela especulação e pelas previsões do que pode acontecer.
Atualmente, é o medo, e não os fundamentos, que impulsiona amplamente os preços das ações. Há o medo de uma recessão no final deste ano ou no próximo.
Os mercados despencaram conforme os negociadores das bolsas ajustaram as expectativas. Para David, a realidade é que as tarifas podem não ser temporárias — e há o risco de mais países agirem da mesma forma.
A jornalista pontua que não são apenas os investidores, mas os líderes mundiais fazem apostas esta semana, enquanto pensam se seguem pelo caminho da contenção ou da retaliação. E essas ações vão moldar o crescimento global e a inflação.
Alguns economistas colocam as chances dos EUA de entrar em recessão em cerca de 50%, enquanto outros acham que a economia global pode enfrentar um risco semelhante.
Vale lembrar que China e Estados Unidos produzem quase metade dos bens globais. Mas as ondas de choque serão sentidas longe desses países.
Mesmo com os mercados no vermelho, o impacto econômico permanece incerto.
Trump tenta 'comer o elefante de uma só vez'
Já Erik Hirsch, copresidente executivo da empresa de investimentos americana Hamilton Lane, que é responsável por mais de US$ 850 bilhões em ativos globais, disse que, embora os investidores estejam "claramente culpando" o governo dos EUA pelas quedas, "muitas pessoas reconhecem que há alguns desequilíbrios comerciais sérios e que algo precisa ser feito para resolver isso".
"O governo [dos EUA] tenta comer o elefante de uma só vez, e então os mercados têm dificuldade em lidar com essas oscilações", afirmou ele durante uma entrevista ao programa Today, da Radio 4 da BBC.
"Acho que este é um exemplo em que há simplesmente muitas variáveis. Os mercados vão processar tudo isso. Enquanto isso, vão cair", complementou ele.
Crédito, Thomas Fisher Rare Book Library, University of Toronto
Legenda da foto, Elizabeth Hughes, uma das primeiras pessoas com diabetes a receber insulina, em foto de 1930Article information
Não é exagero dizer que, até 1922, receber o diagnóstico de diabetes tipo 1 era uma sentença de morte.
Pessoas que desenvolviam essa condição — marcada por problemas na produção do hormônio insulina no pâncreas e dificuldades no aproveitamento da glicose, o "combustível" do corpo — sobreviviam por poucos meses, no máximo um ano.
Isso porque, até a terceira década do século 20, não existia nenhum tratamento disponível para lidar com esse desajuste.
Na tentativa de encontrar soluções, alguns médicos americanos desenvolveram uma solução radical e polêmica: as chamadas "terapias da fome".
Elas consistiam basicamente em manter o paciente com diabetes — em sua maioria, crianças e adolescentes — sem comer por dias ou semanas, até que não fosse mais possível detectar glicose na urina deles.
Depois, esses indivíduos recebiam uma dieta com pouquíssimas calorias, baseada em proteínas e gorduras, com baixa oferta de carboidratos (a principal fonte de glicose).
No entanto, uma intervenção tão severa como essa não dava resultados: ou a família desistia por não aguentar o sofrimento de quem era submetido ao tratamento, ou o paciente apenas sobrevivia por poucos meses para morrer depois de inanição ou de alguma infecção oportunista, já que o corpo ficava muito frágil.
Mas houve pelo menos uma exceção nessa história: a jovem americana Elizabeth Evans Hughes.
Ela aguentou a "terapia da fome" por cerca de dois anos, tempo suficiente para que tivesse acesso a um tratamento inovador que acabara de ser criado no Canadá: a insulina.
A vida por um fio
Antes de entrar nos detalhes da biografia de Elizabeth, vale fazer uma breve explicação sobre o que é o diabetes — e porque ele era uma sentença de morte antes do desenvolvimento dos tratamentos com insulina a partir de 1922.
Todas as células de nosso corpo dependem da glicose, obtida por meio dos alimentos, especialmente dos carboidratos, para funcionar direito.
Essa fonte de energia é digerida no intestino e cai na corrente sanguínea. Mas, para ser aproveitada pelas células, a glicose depende da insulina, um hormônio produzido pelo pâncreas.
Trata-se basicamente de um processo de chave e fechadura: a insulina se liga às células e "abre as portas" para que a glicose possa entrar ali e ser usada como combustível.
Em pessoas com diabetes tipo 1, no entanto, há uma falha na fabricação da insulina. O próprio sistema imunológico delas ataca o pâncreas e destroi de forma definitiva as unidades que produzem esse hormônio.
Essa doença costuma dar os seus primeiros sinais ainda na infância e na adolescência — e trata-se de um quadro totalmente diferente do diabetes tipo 2, que costuma surgir mais tarde, em que a insulina até é fabricada, mas há uma resistência do corpo em utilizá-la adequadamente por uma série de fatores (que envolvem excesso de peso e outras doenças crônicas, entre outras coisas).
De volta ao diabetes tipo 1, a falta da insulina faz com que a glicose se concentre na corrente sanguínea. E isso dispara uma série de mecanismos de emergência do organismo.
"O corpo não consegue identificar que há falta de insulina. Ele começa a aumentar a secreção de hormônios reguladores da fome e do apetite e usa os estoques de gordura e proteína presentes no fígado, nos músculos e no tecido gorduroso como fonte de energia", detalha a médica Solange Travassos, vice-presidente da Sociedade Brasileira de Diabetes.
O resultado prático disso é o emagrecimento, a perda de massa muscular e uma sensação cada vez maior de fome — apesar da enorme quantidade de glicose disponível na circulação.
"Nesse processo de conversão de proteínas e gorduras em glicose, o organismo desidrata e produz ácidos, que alteram o pH do sangue. Isso gera um quadro chamado cetoacidose diabética, que pode levar à morte", complementa a especialista.
Crédito, Thomas Fisher Rare Book Library, University of Toronto
Legenda da foto, A família Hughes, em 1916. Elizabeth está sentada no colo do pai, Charles Evans. Ela seria diagnosticada com diabetes três anos depois, em 1919
Elizabeth foi diagnosticada com diabetes em 1919, aos 11 anos de idade.
Ela era filha do político Charles Evans Hughes, que foi governador do Estado de Nova York, membro da Suprema Corte, Secretário de Estado e candidato do Partido Republicano à presidência dos Estados Unidos nas eleições de 1916 (quando foi derrotado por Woodrow Wilson).
O diagnóstico da menina aconteceu num período em que a "terapia da fome" estava em alta nos EUA.
Os principais defensores do método — baseado numa restrição radical das calorias, até o paciente não ter mais glicose em exames de urina — eram os médicos Frederick Allen e Elliott Joslin.
Allen recebeu Elizabeth como paciente e sugeriu que ela fizesse um jejum total durante uma semana. Depois, ela poderia comer cerca de 500 calorias por dia, ou um quarto do que é preconizado atualmente por instituições como a Organização Mundial da Saúde (OMS).
Quando a glicose dela estivesse controlada, ela poderia comer 1.250 calorias ao dia.
Ao começar o tratamento, a menina estava com 34 quilos. Durante as primeiras semanas, ela chegou a pesar apenas 24 quilos. Pouco depois, voltou a ganhar uns três quilos.
Aliás, essas informações são conhecidas até hoje porque Elizabeth mantinha tabelas e registros meticulosos sobre sua saúde, e sempre contou com o auxílio de uma enfermeira que a acompanhava o tempo todo.
Crédito, Thomas Fisher Rare Book Library, University of Toronto
Legenda da foto, Charles Best e Frederick Banting, dois dos responsáveis pela descoberta da insulina
Na pior fase da terapia, em meados de 1921, quando a saúde de Elizabeth ficou bem frágil, ela chegou a pesar somente 20 quilos.
"Ela não gostava do tratamento e nem do Dr. Allen, mas aderiu à dieta com o acompanhamento de sua enfermeira", aponta o texto.
Mazur demonstra que, mesmo à época, a "terapia da fome" já era controversa, estava baseada em evidências frágeis e muitos dos pacientes submetidos a ela morreram, literalmente, de fome.
Travassos lembra que esse tratamento foi proposto numa época em que não havia nada a ser feito para ajudar as pessoas com diabetes.
"Era uma tentativa de deixar as pessoas vivas por mais tempo", diz ela.
"Mas a verdade é que a 'terapia da fome' não evitava a morte. Ela só prolongava a vida em condições muito deletérias", complementa a médica.
Crédito, Thomas Fisher Rare Book Library, University of Toronto
Legenda da foto, Elizabeth em foto de 1923, quando já estava recuperada da 'terapia da fome' e em tratamento com insulina
Na hora certa, no lugar certo
Como mencionado anteriormente, Elizabeth estava com uma condição de saúde muito frágil entre 1921 e 1922. Porém, notícias que vinham do norte trouxeram um sopro de esperança.
É que naqueles anos os cientistas Frederick Banting e Charles Best, da Universidade de Toronto, no Canadá, conseguiram isolar a insulina e desenvolveram as primeiras versões do tratamento para diabetes tipo 1 que é usado até os dias de hoje.
Em julho de 1922, a mãe de Elizabeth, Antoinette Carter Hughes, escreveu para Banting e solicitou que ele incluísse a filha nos testes clínicos da nova abordagem terapêutica.
O médico canadense, no entanto, não pode atender o pedido de bate-pronto, pois ainda não tinha um suprimento constante e estável de insulina — a substância precisa ser aplicada regularmente, todos os dias, para manter os níveis de glicose no sangue sob controle.
À época, o extrato de insulina era obtido de forma praticamente artesanal, a partir do processamento de pâncreas de animais — hoje em dia, a medicação é feita em laboratórios modernos, a partir de bactérias geneticamente modificadas que fabricam esse hormônio.
No mês de agosto daquele mesmo ano, Allen fez uma visita a Banting e o relembrou do caso de Elizabeth. Naquele mesmo mês, com a anuência dos pesquisadores canadenses, a menina, a mãe dela e a enfermeira viajaram e chegaram a Toronto no dia 15.
Crédito, Thomas Fisher Rare Book Library, University of Toronto
Legenda da foto, A carta escrita pela mãe de Elizabeth para Frederick Banting, em que solicita a inclusão da filha nos testes clínicos da insulina
Os registros históricos revelam que Banting "ficou surpreso de Elizabeth ainda estar viva". Afinal, ela estava extremamente magra, com cabelos finos e quebradiços, a pele seca e escamosa, e mal conseguia andar de tanta fraqueza.
Banting decidiu aplicar a insulina imediatamente em Elizabeth e aumentou a dieta dela aos poucos. Em cerca de duas semanas, a menina já comia a quantidade de comida adequada para alguém da faixa etária dela.
Elizabeth permaneceu em Toronto por mais algumas semanas e descreveu o progresso de sua condição em cartas remetidas à família nos EUA.
"Pensar que eu terei uma existência normal e saudável está além de minha compreensão", confessou ela.
Numa carta de novembro de 1922, perto de voltar aos Estados Unidos, a menina contou que recebeu a visita de seu antigo médico — que não a reconheceu após o ganho de peso e a volta da saúde após alguns meses de terapia com insulina.
"O Dr. Allen só conseguiu soltar um "Oh" e ficou de boca aberta. Ele disse repetidamente que nunca tinha visto uma mudança tão grande em alguém."
"Quando estava saindo, ele fez uma piada ao falar que estava feliz por ter sido apresentado a mim. Caso contrário, não saberia quem era aquela menina", detalhou Elizabeth.
Quando Elizabeth chegou ao Canadá, em agosto de 1922, ela pesava 20 quilos e fazia uma dieta de 1.125 calorias por dia. Três meses depois, em novembro, ela estava com 35 quilos e consumia 2.500 calorias diárias.
Crédito, Thomas Fisher Rare Book Library, University of Toronto
Legenda da foto, Uma das tabelas que Elizabeth preenchia à mão para monitorar alguns parâmetros do diabetes
Uma paciente a frente de seu tempo
Vale dizer que Elizabeth não foi a primeira pessoa a receber insulina dentro dos testes da Universidade de Toronto.
O pioneiro aqui foi o canadense Leonard Thompson, que à época tinha 13 anos.
Outro caso famoso nesses primeiros momentos da descoberta da insulina é o de Teddy Ryder, que tinha apenas cinco anos quando recebeu o tratamento — e se tornou a primeira pessoa a viver mais de 70 anos após o diagnóstico de diabetes tipo 1 (ele faleceu em 1993, aos 76 anos).
Numa famosa carta de agradecimento que escreveu a Banting quando ainda era criança, Teddy relata: "Agora sou um menino gordinho e me sinto bem. Posso até escalar uma árvore."
Crédito, Thomas Fisher Rare Book Library, University of Toronto
Legenda da foto, Numa carta de agradecimento a Banting, o jovem Teddy Ryder escreveu: "Querido Dr. Banting. Gostaria que você viesse me ver. Sou um garoto gordinho agora e me sinto bem. Posso escalar uma árvore. Margaret também gostaria de vê-lo."
Mas nesse rol de pioneiros, Elizabeth se destaca por ter sido o primeiro rosto público do sucesso do tratamento com a insulina — como ela era filha de um político americano importante, o caso foi amplamente noticiado nos jornais americanos e canadenses.
O historiador Christopher Rutty, professor da Escola de Saúde Pública da Universidade de Toronto, destaca que "Elizabeth virou uma pesquisadora da própria doença que tinha".
"Elizabeth é uma daquelas pessoas que estava no lugar certo, na hora certa", avalia o especialista.
"Muito além do fato de ser filha de alguém importante, ela era muito brilhante, inteligente e engajada."
"Com isso, contribuiu de uma forma significativa para os estudos clínicos e as melhores formas de aplicar a insulina num período em que não existiam informações sobre isso", complementa ele.
O historiador ainda lembra que a chegada da insulina há pouco mais de um século foi um marco na Medicina difícil de ser comparado com outros avanços.
"Do ponto de vista médico, há poucas ocasiões em que um novo tratamento fez algo como a insulina. Falamos aqui de crianças que chegavam famélicas, em estado de inanição, à beira da morte e, após poucas doses, se recuperaram. É quase como se elas voltassem dos mortos", raciocina ele.
Rutty destaca que Elizabeth também inovou ao ser uma das primeiras pessoas com diabetes a aplicar insulina em si mesma — algo que hoje é feito rotineiramente por milhões de pacientes com a doença ao redor do mundo.
Crédito, Thomas Fisher Rare Book Library, University of Toronto
Legenda da foto, Uma reportagem do jornal Toronto Daily Star noticia que a jovem Elizabeth (ao centro) começaria o tratamento com insulina
Um século de insulina
Para Selina Hurley, curadora de Medicina do Museu de Ciências, no Reino Unido, a descoberta da insulina revela a importância do trabalho coletivo.
"Mais do que um momento 'eureka' [aquela ideia inovadora e brilhante desenvolvida repentinamente por um único indivíduo], as inovações surgem a partir de uma série de descobertas, feitas por diferentes pessoas ao longo de muitos anos", lembra ela.
Não à toa, a insulina continuou a ser estudada e foi motivo de três prêmios Nobel — em 1923, para Frederick Banting and John MacLeod (pela descoberta desse hormônio); em 1958, para Frederick Sanger (que determinou a sequência de aminoácidos da insulina); e em 1964, para Dorothy Hodgkin (que detalhou a estrutura dessa substância).
"Essa história também nos mostra o quanto ainda não sabemos sobre a insulina e o diabetes, uma vez que, passado um século, ainda não temos uma cura para essa doença."
Mas Hurley destaca que a chegada da insulina não representou o fim de todos os problemas para quem tem diabetes.
"Essa história continua viva hoje quando pensamos em acesso. Em muitos lugares, obter insulina ainda está relacionado ao lugar onde você mora e se você consegue pagar pelo tratamento", diz ela.
Travassos, que tem diabetes há quase 40 anos, concorda com essa avaliação.
"Se ficar sem insulina, não sobrevivo dois dias", confessa a médica.
"E nossa luta continua a ser sobre o acesso à educação e ao tratamento do diabetes", complementa ela.
Crédito, Thomas Fisher Rare Book Library, University of Toronto
Legenda da foto, Elizabeth e seu marido aproveitam a lua de mel nas Bermudas; ela nunca falou publicamente de sua doença durante a vida adulta
Curiosamente, ao voltar para os EUA, Elizabeth praticamente não falou mais sobre ter diabetes de forma pública — e chegou a destruir alguns registros e diários em que mencionava o assunto.
Rutty especula que Elizabeth "não queria fazer um grande caso ou chamar a atenção" para a doença que precisava manter sob controle.
"A insulina é algo que passa a fazer parte da vida dessas pessoas, que precisam administrar as doses ao longo da vida", observa o historiador da Universidade de Toronto.
"Quando ela começou o tratamento, era uma menina jovem e estava grata por ter sobrevivido. Mas queria seguir em frente", justifica ele.
O especialista destaca que o também historiador canadense Michael Bliss, que escreveu livros sobre a história da insulina em meados dos anos 1970 e 1980, encontrou Elizabeth e perguntou se poderia contar tudo o que ela viveu.
"No início, Elizabeth estava hesitante em falar abertamente sobre o tema. Mas depois, entendeu o valor histórico do relato dela", conta Rutty, que fez seu doutorado sob a orientação de Bliss.
Elizabeth se formou na Universidade Columbia, em Nova York, e se casou com o advogado William T. Gossett. Ao longo da vida adulta, atuou em diversos órgãos de apoio à educação e foi uma das fundadoras da Sociedade Histórica da Suprema Corte dos EUA, da qual foi presidente nos anos 1970.
Elizabeth faleceu em 1981, aos 73 anos — quando havia recebido cerca 42 mil injeções de insulina ao longo da vida.
O receio de que o Brasil seria um dos alvos principais do tarifaço global do governo de Donald Trump deu lugar a um certo alívio após a Casa Branca colocar o país na menor alíquota extra de importação (10%).
A tarifa vai encarecer produtos brasileiros comprados por empresas e consumidores americanos, mas com impacto bem menor do que outras nações, como Índia (26%), Japão (24%) e União Europeia (20%).
No caso da China, os produtos serão taxados em até 54%. O tarifaço tem provocado forte queda nas bolsas da Ásia e Europa nesta segunda (07/04). Em reação, Pequim anunciou tarifas retaliatórias de 34% sobre todos os produtos importados dos Estados Unidos a partir de 10 de abril.
Especialistas em comércio exterior e economistas ainda analisam os impactos das mudanças para o Brasil, mas a percepção é que, entre ganhos e perdas, o saldo tende a ser negativo devido à maior incerteza global e aos riscos para o crescimento econômico mundial, o que teria impacto sobre a atividade econômica brasileira.
A previsão de muitos economistas é que o tarifaço de Trump vai gerar inflação nos Estados Unidos, podendo esfriar a maior economia do mundo. Além disso, a Organização Mundial do Comércio projeta que o aumento das tarifas americanas vai reduzir em 1% o comércio mundial neste ano.
Por outro lado, potenciais ganhos para o Brasil com a nova configuração de comércio mundial também têm sido apontados.
Possíveis impactos positivos vão desde ganho de competitividade de produtos brasileiros no mercado americano, frente a produtos sobretaxados de outros países, a aumento das vendas de commodities para a China, já que o país tende a reduzir suas compras dos Estados Unidos.
No cenário macroeconômico, a desvalorização do dólar, que tem recuado globalmente desde a posse de Trump em janeiro, pode trazer alívio para a inflação brasileira, ao baratear produtos importados.
Para o presidente da Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos (ApexBrasil), Jorge Viana, eventuais vantagens para o Brasil não compensarão o cenário global pior, com enfraquecimento do multilateralismo.
"Se os Estados Unidos conseguirem implementar essas medidas, pode ter como consequência, por exemplo, acelerar o processo do acordo Mercosul-União Europeia", disse Viana a jornalistas, na quinta-feira (03/04).
"Mas eu não estou querendo trabalhar a tese de tirar proveito, porque um mundo inseguro, um mundo em conflito, é ruim para todo mundo, inclusive o Brasil. Vai ser ruim para todos, independente de você ganhar mais aqui ou perder ali", reforçou.
Entenda melhor a seguir três possíveis impactos positivos.
Taxação de outros países pode abrir mercados para Brasil?
Apesar de, antes do anúncio do tarifaço, Trump ter citado o Brasil diretamente como um parceiro protecionista, o país ficou no grupo da tarifa extra mínima, de 10%, porque tem um comércio equilibrado com os Estados Unidos.
No último ano, o saldo ficou positivo para os americanos em cerca de US$ 300 milhões, com o país de Trump comprando US$ 40,4 bilhões em produtos do Brasil (12% das exportações brasileiras) e vendendo US$ 40,7 bilhões para cá (15,5% das importações do Brasil).
As tarifas mais altas foram aplicadas contra países com os quais os Estados Unidos têm grandes déficits comerciais.
Essa diferença pode criar oportunidades para o Brasil, projetam analistas. O principal impacto previsto é o aumento de vendas do agronegócio para a China, que deve reagir a sua taxa elevada reduzindo as compras dos Estados Unidos.
No primeiro governo de Donald Trump, esse efeito já foi observado, com alta nas exportações de soja do Brasil, nota Lia Valls, pesquisadora do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas (FGV Ibre) e professora da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj).
Agora, o cenário é favorável para aumento das vendas de sorgo, já que Brasil e China assinaram um acordo no final de 2024 para aumentar as exportações desse cereal, lembra ela.
"Temos esse acordo de sorgo com os chineses. É algo que a gente quase não exporta, mas os Estados Unidos exportavam muito para eles", ressalta.
Valls, porém, está pessimista com o cenário mais amplo.
"Quando a maior economia do mundo faz uma série de medidas que simplesmente rompem com qualquer compromisso que se tinha de regras de comércio, é ruim para todo mundo", afirma.
Para a consultoria econômica MB associados, o tarifaço vai ampliar as trocas brasileiras com a China, que já é o maior parceiro comercial do país, seguida dos Estados Unidos.
"Hoje, a corrente de comércio [soma de importações e exportações do Brasil] com os chineses é praticamente o dobro dos americanos [com o Brasil]. Não será difı́cil ver os chineses caminharem para US$ 200 bilhões de corrente de comércio [com o Brasil] e os americanos caı́rem para US$ 60 bilhões. O que era "apenas" o dobro se tornará o triplo em alguns anos", diz relatório da MB associados.
"Os ganhos de balança comercial [para o Brasil] poderão se acentuar nos próximos anos, pois, além das safras crescentes, a demanda chinesa por soja, milho e carnes dos EUA será desviada para nós. O mesmo vale para as outras commodities.
Para a consultoria, "haverá uma tendência de aproximação do Brasil também com o Sudeste Asiático, Japão e Europa, aumentando a corrente de comércio com esses países".
Além disso, há perspectiva de que alguns exportadores brasileiros possam ter ganho de mercado nos EUA, por causa das tarifas maiores impostas a outros países.
No caso do café, por exemplo, embora o produto brasileiro passe a ser taxado em 10%, outros fornecedores sofrerão tarifas ainda maiores, como Suíça (31%) e Vietnã (46%).
Para a gerente de Comércio e Integração Internacional da Confederação Nacional da Indústria (CNI), Constanza Negri, eventuais ganhos podem afetar alguns setores, mas o saldo geral é preocupante para a produção brasileira.
Ela ressalta que, embora a taxa global brasileira tenha ficado em 10%, alguns setores importantes serão impactados com taxas mais altas, como aço e alumínio, tarifados em 25% pelo governo Trump, independentemente do país de origem.
A medida é significativa porque produtos derivados de ferro e aço são o segundo item brasileiro mais exportado para os EUA, tendo somado US$ 2,8 bilhões em vendas em 2024, ficando apenas atrás de petróleo (US$ 5,8 bilhões).
Além disso, a Casa Branca impôs uma tarifa de 25% às importações da indústria automotiva, afetando exportações de autopeças do Brasil, nota Negri.
E há produtos para os quais o governo Trump disse ainda estudar novas tarifas, como cobre e madeira, esse último com mais relevância para o Brasil.
"A CNI recebeu a notícia [do tarifaço] com cautela e preocupação. A leitura precisa ser feita de maneira combinada, olhando essas questões setoriais e de alíquotas horizontais. E você vê que não está concluído o desenho desse mapa", ressalta.
Enquanto os chineses importam muitas commodities brasileiras, os Estados Unidos são o principal comprador de produtos manufaturados do Brasil, como insumos e equipamentos para sua indústria.
Os três itens mais vendidos aos americanos são petróleo, produtos semi-acabados e outras formas primárias de ferro ou aço, e aeronaves e suas partes.
Legenda da foto, Reação da China a tarifaço dos EUA pode abrir mercado de sorgo para o Brasil
Tarifaço pode mesmo impulsionar acordo Mercosul-União Europeia?
O acordo comercial entre Mercosul e União Europeia está em sua fase final de implementação, após 25 anos de negociação, mas ainda enfrenta resistências dentro do bloco europeu, lideradas pela França, devido ao receio do setor agropecuário francês com a entrada maior de produtos sul-americanos.
Os dois blocos anunciaram em dezembro que chegaram a um acordo técnico, faltando agora etapas importantes para que o tratado seja assinado e entre em vigor, como a aprovação por duas instâncias que reúnem representantes dos países da União Europeia: o Conselho de Ministros e o Parlamento Europeu, sediados em Bruxelas, capital da Bélgica.
Segundo a agência de notícias Reuters, um porta-voz do bloco europeu disse que o acordo com o Mercosul seria uma "grande oportunidade" no novo contexto de incertezas geradas pelo tarifaço de Trump.
"Iremos investir muito tempo e energia com os Estados-membros para finalizar o acordo", acrescentou a fonte ouvida pela Reuters.
O acordo prevê a redução de tarifas de importação, que pode ser imediata ou gradual (em até 15 anos), a depender dos setores. Essa liberação vai atingir 91% dos bens que o Brasil importa da União Europeia e, do outro lado, 95% dos bens que o bloco europeu importa do Brasil.
Caso entre em vigor, o acordo vai alavancar alguns setores brasileiros (principalmente o agronegócio) e pode prejudicar outros, mas governo e economistas têm uma visão otimista sobre o saldo desse impacto para o crescimento do país.
Além disso, pode beneficiar o consumidor, com o potencial barateamento de produtos importados, como azeites, queijos, vinhos e frutas de clima temperado (frutas secas, peras, maçãs, pêssegos, cerejas e kiwis).
O tarifaço de Trump, porém, não reduziu a resistência francesa ao acordo, segundo o embaixador da França no Brasil, Emmanuel Lenain.
Em conversa com jornalistas na quinta-feira (3/4), ele pontuou a diferença de volume entre os negócios da União Europeia com os EUA e com o Mercosul.
"Um acordo permitiria desenvolver um pouco as trocas, mas não estamos de forma alguma nos mesmos níveis de valor", disse, segundo o jornal Folha de S.Paulo.
"Pelo seu peso econômico e comercial, o que o presidente Trump e os Estados Unidos estão introduzindo na economia mundial é um cataclismo", acrescentou.
Crédito, EPA-EFE/REX/Shutterstock
Legenda da foto, Guerra comercial entre EUA e China provocou quedas das bolsas e alta do dólar
Recuo do dólar vai aliviar inflação no Brasil?
Após a forte disparada do dólar em 2024, quando chegou a R$ 6,26, a moeda tem recuado este ano no Brasil, acompanhando sua desvalorização global, e chegou a fechar em R$ 5,62 na quinta-feira (3/4), dia seguinte ao tarifaço.
Na sexta-feira, porém, a instabilidade gerada pela guerra comercial entre EUA e China, fez o dólar registrar forte alta para um único dia, fechando em R$ 5,83.
A queda recente da moeda pode segurar um pouco a inflação, num cenário em que a alta de preços tem pressionado a elevação de juros pelo Banco Central, algo que reduz o crescimento econômico.
Segundo relatório da consultoria econômica MB Associados, efeitos positivos do tarifaço para o Brasil vão contribuir para um dólar mais baixo.
"A ideia de uma balança comercial mais forte com os chineses e outros paı́ses, com os efeitos adicionais de, por exemplo, acelerar o acordo comercial com os europeus, tende a manter a taxa de câmbio mais baixa nos próximos meses. Assim, o câmbio tende a se manter na faixa de 5,70 ao longo de 2025".
Isso, diz o relatório, vai evitar que o IPCA, índice de preços do IBGE, se distancie mais do limite da meta do Banco Central (4,5%) neste ano.
"O câmbio mais baixo esse ano ajuda o IPCA a se aproximar do número que já estimamos de 5,1% e afasta números acima de 5,5%, por ora", estima a MB Associados.
Já Claudia Moreno, economista do C6 Bank, considera que existe muita incerteza sobre os rumos da taxa de câmbio. Ela ressalta que, em momentos de crise e instabilidade, investidores costumam buscar aplicações mais seguras em dólar, o que valoriza a moeda americana.
"O que vai acontecer agora? É difícil saber. Hoje [sexta-feira], a gente teve um movimento de aversão a risco que acabou depreciando várias moedas de países emergentes, tal como o Brasil", nota ela.
"É muito difícil dizer o que vai acontecer pra frente. Será que a economia global vai entrar em recessão e o dólar vai ficar mais forte? Não sei", disse ainda.