Índia desponta em meio à guerra comercial

Enquanto China e Estados Unidos travam uma guerra mercantil de desfecho imprevisível, a Índia pode despontar uma vez que um parceiro mercantil confiável no Oriente — e não somente para os americanos.
Em abril, durante uma viagem familiar à Índia, o vice-presidente dos Estados Unidos, J.D. Vance, se encontrou com o primeiro-ministro indiano, Narendra Modi. Ambos elogiaram os esforços mútuos para a desenlace de acordos bilaterais em diversos setores.
A União Europeia também tem buscado o mercado automobilístico indiano uma vez que direcção para os carros produzidos pelos integrantes do conjunto. As negociações estariam avançando, com possíveis reduções tarifárias por segmento da Índia.
E a crédito na Índia uma vez que parceira mercantil está em subida. Em uma pesquisa realizada pela britânica OnePoll em janeiro deste ano, 61% de 500 gerentes-executivos de companhias americanas confessaram preferir a Índia à China, se ambos os países fabricassem os mesmos materiais.
Ainda de conciliação com a mesma sondagem, 56% dos executivos desejam que a Índia, e não a China, atenda às necessidades de sua enxovia de suprimentos nos próximos cinco anos.
No dia 1.º de maio, o CEO da Apple, Tim Cook, afirmou que a Índia será a responsável pela fabricação da maior segmento dos iPhones vendidos nos EUA, enquanto iPads e outros dispositivos serão originários do Vietnã.
O pesquisador do Núcleo de Perceptibilidade Internacional da FGV Leonardo Sossego observa que, de traje, a Índia tem desenvolvido uma vez que um provável parceiro no Oriente. Mas, ele ressalta que esse processo, além de não ser novo, não se restringe somente à Índia.
“Você tem alguns países asiáticos, especialmente Vietnã, Tailândia, Coreia do Sul, que têm sido bastante utilizados e têm recebido muito investimento de outros países para se organizarem como plataformas de produção”, diz.
Segundo ele, a transferência de investimentos para outros países da Ásia já acontece há alguns anos, decorrente do encarecimento da mão de obra chinesa e, consequentemente, de tudo o que é manufaturado na China.
Arno Gleisner, diretor de Negócio Exterior da Câmara de Negócio, Indústria e Serviços do Brasil (Cisbra), aponta que a Índia poderia substituir a China uma vez que fornecedora de uma ampla gama de produtos — tanto para o consumidor final quanto uma vez que insumo industrial.
Ainda assim, essa não é uma solução imediata. Ele avalia que, no limitado e médio prazos, isso não ocorreria com a maioria dos produtos. “Para atender mercados tão grandes [EUA e Europa] serão necessários investimentos e tempo para fazê-los, treinamento em mão de obra e contratos de transferência de tecnologia e fornecimentos garantidos”, explica.
Um ponto que também deve ser considerado na atratividade da Índia é a recente escalada de hostilidades entre o país e o Paquistão. Em abril, a Índia atacou o Paquistão em resposta a um ataque terrorista na parte que controla da região da Caxemira.
Ambos os países são potências nucleares e um conflito mais amplo e acirrado pode impactar a estabilidade local e, até mesmo, os interesses de investidos estrangeiros na Índia.
Avanços no comércio bilateral EUA-Índia
Apesar de ter sido inicialmente taxado em 26% no tarifaço de Donald Trump, o governo indiano tem se mostrado disponível para negociações com os EUA e outros países, incluindo a União Europeia.
O país foi incluído na pausa tarifária de 90 dias concedida por Trump e, até o momento, as tarifas para a Índia estão como as brasileiras, em 10%. Por si só, esses três meses já seriam estratégicos e vantajosos em relação à China, cujas tarifas estão em 145%.
Adicionalmente, as negociações entre ambas as nações têm avançado. Após o encontro com J.D. Vance, o gabinete de Narendra Modi afirmou que os dois líderes “elogiaram o progresso significativo nas negociações para um acordo comercial bilateral mutuamente benéfico entre a Índia e os EUA”.
Foram destacados os “esforços contínuos” de ambas as partes para aprimorar a cooperação em áreas como energia, defesa e tecnologias estratégicas.
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Negociações cada vez mais controversas
Em contraste, as negociações com a China parecem cada vez menos amistosas. Em 22 de abril, Trump afirmou a repórteres no Salão Oval que iria reduzir as tarifas contra a China e, no dia seguinte, disse estar em negociações com o país asiático. Porta-vozes chineses prontamente retrucaram e ironizaram as falas de Trump, negando quaisquer negociações com os EUA e classificando as informações como fake news.
Na sequência, Trump não só reafirmou que as negociações estavam em curso como chegou a afirmar que o ditador chinês, Xi Jinping, teria ligado para ele para tratarem sobre o tema. Novamente, a China disse que não havia nenhuma negociação com os EUA e, tampouco, telefonema entre os líderes de ambas as nações.
Segundo Leonardo Paz, quando os processos de substituição de importações ocorrem de forma “natural e orgânica”, dentro das regras do comércio internacional, elas não geram instabilidade. Por outro lado, quando acontecem de forma “completamente forçada”, uma vez que no cenário atual, podem “criar algum tipo de embaraço”.
Portos amigos atraem mais investimentos
Em meio à controvérsia, a percepção dos líderes americanos em relação à China tem se deteriorado. Hoje, 59% das empresas veem o país asiático como uma aposta arriscada para suas cadeias comerciais. A Índia é considerada um risco por apenas 39%.
“As empresas estão vendo a Índia como uma estratégia de investimento de longo prazo, em vez de uma mudança de curto prazo para evitar tarifas”, disse Samir Kapadia, CEO do India Índice, grupo que encomendou a pesquisa da OnePoll.
Leonardo Paz explica que a ideia de realocar as cadeias de produção em países que são aliados políticos ou comerciais, em detrimentos daqueles com os quais há conflitos ou que sejam de alto risco, é uma prática antiga nas relações internacionais, conhecida como friendshoring.
“Certamente, a Índia é um desses países que mais se enquadram nesse contexto, mas há outros também, como o México e Bangladesh, de certa maneira. Mas a Índia é o mais importante”, avalia.
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O crescente interesse na Índia, entretanto, ainda não seria capaz de desbancar a pujança chinesa no transacção internacional. Arno Gleisner, da Cisbra, entende que, mesmo diante do cenário atual, a China segue sendo mais confiável, fornecendo uma gama mais ampla de produtos.
“A China já tem qualidade e uma possante economia de graduação. Mas é um cenário que poderá se mudar ao longo do tempo, com a Índia seguindo uma trajetória semelhante à que a China efetuou a partir de 1980, e partindo de uma base mais sólida”, avaliou.
Leonardo Paz salienta que a atratividade chinesa se deve à sua conexão com a cadeia global mais eficiente neste momento. Ele também vê países como Taiwan, Coreia do Sul e Vietnã despontando como opções aos chineses — não apenas para os Estados Unidos, mas para outros países também.
União Europeia também está de olho na Índia
Apesar de se moverem com menos alarde, outros países, como os europeus, também têm demonstrado interesse am ampliar relações com a Índia. Desde o início de abril, a União Europeia está negociando a redução das tarifas indianas para a importação de carros.
Ambas as partes se mostraram dispostas a retomar as negociações de um acordo comercial para viabilizar as novas tarifas. Segundo a agência Reuters, a Índia estaria aberta à redução gradual das suas alíquotas de importação.
Ao todo, a indústria automobilística na Índia vende cerca de quatro milhões de carros por ano, e as empresas não querem deixar tão barato para os europeus.
O lobby interno pressiona para que o país reduza a tarifação gradualmente, passando de 100% para 70% e chegando a 30% para veículos movidos a combustíveis fósseis.
Já em relação aos carros elétricos, demandam que as tarifas sejam mantidas por cerca de quatro anos, a fim de não pôr a perder os investimentos feitos no setor — mostrando que os EUA não estão sozinhos na defesa de suas tarifas.
Assim, diante de um cenário global que se mostra cada vez mais tensionado, a busca por parceiros comerciais “mais previsíveis” virou prioridade estratégica, fazendo com que a Índia desponte uma vez que um dos destinos mais promissores para os países que buscam novos parceiros comerciais.