15 de junho de 2025

Se Irã e Israel detonarem bombas nucleares, Brasil seria atingido?

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O conflito militar direto entre Israel e Irã, iniciado na última quinta-feira (12/6) e com trocas de bombardeios intensos entre os países elevou o medo do início de uma guerra nuclear.

Israel possui um arsenal de bombas atômicas estimado em 90 ogivas e Israel alega que o Irã tem capacidade de ter produzido pelo menos nove bombas atômicas. Em meio à instabilidade no Oriente Médio, cresce a dúvida sobre os impactos bélicos do conflito em outras regiões, caso estourem as bombas.

Escalada da guerra no Oriente Médio

  • Depois de diversas ameaças, Israel lançou o que chamou de “ataque preventivo” contra o Irã, nessa quinta (12/6). O foco da operação foram instalações nucleares do país, assim como locais onde estavam líderes militares e cientistas nucleares.
  • Ao longo da semana, a retórica militar entre os dois países aumentou. Há alguns dias, o governo iraniano afirmou que atacaria Israel caso seu programa nuclear fosse atingido.
  • O principal objetivo da ação, segundo o governo israelense, é impedir que o Irã consiga construir uma arma nuclear.
  • Como resposta à operação israelense, o Irã lançou um exército de drones contra o território de Israel.

Armas nucleares geram destruição localizada, mas os efeitos não se limitam ao raio da explosão. Ondas de choque, radiação e precipitação radioativa atingem áreas extensas.

Quais são os impactos das bombas modernas?

Imagina-se que as bombas israelenses sejam do tipo W-76, o tipo de ogiva termonuclear mais comum no arsenal dos Estados Unidos (que doou parte de seu poder bélico a Israel).

Essas bombas têm um impacto de 100 quilotons, sete vezes mais poder do que a bomba lançada em Hiroshima, no Japão, em 1945. Além de sua nuvem de fogo, as bombas têm um efeito de radiação por um raio de mais de 260 quilômetros do ponto central de seu lançamento.

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Apesar do impacto devastador, o Brasil, graças à distância, sairia ileso de um impacto radioativo das bombas, mas mesmo que os impactos não atinjam diretamente a América do Sul, os reflexos podem ser globais.

Especialistas em segurança alertam para os riscos indiretos. Interrupções no comércio, instabilidade financeira e colapsos ambientais estariam entre os principais danos para países fora da zona de impacto imediato.

Como funcionam as armas nucleares

As bombas nucleares funcionam por fissão nuclear, quando uma explosão consegue dividir átomos de elementos pesados, como urânio ou plutônio. A reação libera calor e radiação em grande escala. Esse tipo de explosivo é usado desde os bombardeios de Hiroshima e Nagasaki.

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Área de Teerã que seria atingida por uma bomba W-76. A área laranja representa a zona que seria atingida pela bola de fogo. O raio cinza escuro, dentro do laranja, representa a zona de radiação média

Reprodução/Nukemap2 de 2

Área de Tel-Aviv que seria atingida por uma bomba W-76. A área verde representa a radiação direta e fatal, a cinza claro, os impactos previstos da radiação leve

Reprodução/Nukemap

O que aconteceria com a detonação das bombas?

Simulações do projeto Nukemap, criado pelo historiador nuclear Alex Wellerstein, do Stevens Institute of Technology, nos Estados Unidos, mostram que uma explosão de uma W-76 em Teerã, capital do Irã, ou em Tel-Aviv, de Israel, criaria uma bola de fogo que vaporizaria tudo em um raio de 423 metros.

Em um raio de até 9 km de distância, prédios teriam suas estruturas abaladas e pessoas sofreriam ferimentos com os estilhaços. Queimaduras de terceiro grau se espalhariam em um raio de até 4 km, mais do que toda a Avenida Paulista, em São Paulo. Uma onda de radiação intensa atingiria até 1 km do epicentro da explosão com força letal.

Se a bomba caísse em Teerã, estima-se que uma detonação assim causaria mais de 650 mil mortes e mais de 2 milhões de feridos. Se a bomba caísse em Tel-Aviv, o Nukemap indica que ao menos 109 mil pessoas morreria imediatamente e haveria mais de 220 mil feridos. Isso sem contar os efeitos da precipitação radioativa (quando nuvens radiotivas dissipam os elementos tóxicos por quilômetros, a depender dos ventos).

“A radiação é invisível, mas atravessa barreiras físicas, destruindo DNA e causando tumores. Não é possível medir quantos quilômetros a onda de radiação pode alcançar, já que ela é composta por raios gama, raios de luz e partículas subatômicas provenientes do núcleo de urânio, que não podem ser vistos nem medidos. Quanto mais distante dessa radiação uma pessoa estiver, menores serão as consequências”, afirmou o físico Francisco Gontijo Guimarães, professor da USP, em entrevista anterior ao Metrópoles.

Brasil está fora do alcance direto

Geograficamente, o Brasil não estaria na área de explosão ou radiação de um eventual ataque entre Irã e Israel. A distância entre os países supera 10 mil quilômetros. Nenhuma arma nuclear atual cobre essa extensão com efeitos físicos diretos.

As zonas de impacto de uma bomba, mesmo com grande potência como as bombas Czar da Rússia (mil vezes mais potentes que as W-76), não ultrapassam centenas de quilômetros. A radiação, embora perigosa, se dissipa com o tempo e a distância. A ameaça direta para brasileiros, portanto, é praticamente nula.

Ainda assim, o país poderia sentir consequências ambientais, comerciais e diplomáticas. A precipitação radioativa, por exemplo, depende de ventos e condições atmosféricas. Especialistas afirmam que os riscos para o território sul-americano são baixos, mas não inexistentes.

Tratados assinados em 1970 e 2017 proíbem o uso de armas nucleares em conflitos. Mesmo assim, as potências mantêm estoques prontos para uso. O risco de uma escalada acidental ou deliberada com os conflitos entre eventuais duas potências nucleares, portanto, volta ao centro das preocupações internacionais.

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