Gripe aviária pode reduzir preço dos ovos e do frango

A confirmação do primeiro foco de gripe aviária em uma granja comercial brasileira, localizada em Montenegro (RS), pode trazer uma notícia positiva para os consumidores: a provável redução nos preços do frango e dos ovos, itens fundamentais na alimentação dos brasileiros e que tiveram forte alta no último ano. Também pode dar um alívio na inflação.
Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), até abril, em 12 meses, o frango inteiro aumentou 9,2%, enquanto os precos do frango em pedaços subiram 12,2% e os ovos tiveram uma alta de 16,8%. No mesmo período, a inflação foi de 5,53%%
A suspensão das exportações por diversos parceiros comerciais como Argentina, China, Chile, Estados Unidos, México e União Europeia pode fazer com que a produção antes destinada ao mercado externo seja redirecionada para o consumo doméstico. Esta oferta adicional no mercado interno deve resultar em queda nos preços.
O economista José Roberto Mendonça de Barros, da MB Associados, disse ao Valor que este remanejamento dos fluxos comerciais, ainda que temporário, representa uma oferta não programada que beneficiará o consumidor brasileiro com uma redução rápida nos preços, possivelmente por cerca de dois meses.
Instabilidade sanitária pode despertar alerta
O anúncio de gripe aviária ocorre em momento delicado para o setor avícola. Em 2024, o Brasil exportou mais de US$ 10 bilhões em carne de frango, representando 35% do comércio global deste produto. China, Japão, Arábia Saudita e Emirados Árabes Unidos estão entre os principais destinos da produção brasileira.
Qualquer sinal de instabilidade sanitária pode gerar restrições comerciais imediatas, como já ocorreu anteriormente com o Japão. No entanto, Felipe Vasconcellos, sócio da Equus Capital, recomenda cautela antes de tirar conclusões precipitadas sobre os impactos no mercado.
“Notícias como essa geralmente causam medo e chamam bastante atenção, mas é importante analisar com mais calma. O Ministério da Agricultura e a Vigilância Sanitária possuem protocolos muito claros para contenção. É do interesse tanto do governo quanto dos produtores mitigar rapidamente esses efeitos”, explica.
O Brasil negocia a regionalização do protocolo de suspensão das exportações à União Europeia, pedindo que elas sejam restritas apenas à região do foco detectado, em um raio de 10 quilômetros, ou ao Rio Grande do Sul.
Tanto o Ministério de Agricultura e Pecuária, como a Associação Brasileira de Proteína Animal (ABPA) estão ressaltando que o consumo de carne de aves e ovos inspecionados não transmite a doença e é completamente seguro para a população
A gripe aviária é causada por vírus influenza que circulam principalmente entre aves. O foco confirmado no Rio Grande do Sul é o primeiro no Brasil em uma granja comercial. Anteriormente, desde 2023, os casos identificados no país haviam sido apenas em aves silvestres ou criações de subsistência.
Em humanos, o risco de infecção pelo vírus é considerado baixo em nível global pela Organização Mundial da Saúde (OMS). A transmissão para pessoas é rara e geralmente ocorre devido ao contato direto desprotegido com aves infectadas ou ambientes contaminados.
Perspectivas são de rápida resolução para problema da gripe aviária
O setor avícola brasileiro, líder mundial em exportação de carne de frango, considera o caso de gripe aviária em Montenegro como “pontual” e confia na rápida contenção da doença. O governo implementou barreiras sanitárias em rodovias para desinfectar veículos que transitam por propriedades rurais em um raio de até 10 km do foco.
A cadeia produtiva, concentrada em grandes empresas e cooperativas privadas, demonstra capacidade para limitar os impactos econômicos no curto prazo, desde que não surjam novos focos. A ABPA confia na agilidade do Brasil para negociar e derrubar os embargos rapidamente, citando como exemplo um caso anterior no qual a China retomou as compras em apenas 26 dias.