Para lá do Sistema Solar: veja quanto tempo um satélite dura no espaço

Desde 1957, quando o primeiro satélite artificial foi lançado, o soviético Sputnik, nossa forma de estudar o espaço depende diretamente dos robozinhos exploradores.
Satélites de pesquisa são planejados com objetivos claros e limitações das tecnologias dos períodos em que foram lançados. O tipo de missão determina a trajetória, altitude e duração de cada operação. O desgaste dos componentes e o consumo de combustível também limitam o tempo de atividade no espaço.
A maioria dos satélites está em órbitas mais baixas, a cerca de 1,5 mil quilômetros da Terra. São eles que monitoram o clima e fornecem internet, por exemplo. Nesta faixa, porém, eles ainda enfrentam resistência atmosférica da Terra.
O atrito reduz gradualmente a altitude do satélite, provocando, após um tempo que deve ser previsto pela equipe que o planejou, a reentrada e desintegração natural ao entrar em contato com a atmosfera terrestre.
A vida útil deles depende da altitude que alcançaram e da robustez dos sistemas para seguir se comunicando. Algo parecido ocorre com os satélites que são disparados para fora da órbita terrestre, mas nestes casos a vida útil é bem menos controlada.
“Satélites enviados para pesquisar outros corpos celestes ou regiões do espaço sideral podem acabar colidindo com planetas ou luas ou seguir vagando por aí. Nesse caso, o prazo de validade é limitado pela capacidade de comunicar-se com a Terra e pela energia a bordo”, explica o consultor em telecomunicações Waldo Russo, CEO Union Engenharia de Telemática, uma empresa de satélites.
O Sistema Solar em números curiosos
- O Sistema Solar tem oito planetas: Mercúrio, Vénus, Terra, Marte, Júpiter, Saturno, Urano e Netuno. Plutão não é considerado um planeta, ficando em uma categoria inferior, de planeta-anão.
- Somando todos os planetas, são mais de 400 luas. Só Saturno conta com 274 luas e Júpiter possui 95 luas.
- Em Marte está o ponto mais alto de superfície conhecida do Sistema Solar. O Monte Olimpo, com 22 quilômetros de altura, é um vulcão que tem mais de três vezes a altura do Monte Everest. Se ele estivesse no Brasil, seu território seria maior que o estado de Minas Gerais. Supõe-se que ele esteve em erupção ininterrupta por 2 bilhões de anos.
- O planeta de mais gravidade é Júpiter, com cerca de 2,5 vezes a força da gravidade da Terra. Júpiter também é o maior planeta e o dono do dia mais curto (dá uma volta em si mesmo em só 10 horas terrestres).
- O Sistema Solar não acaba após os planetas-anões. O Sol segue com uma zona de influência ativa por uma distância 100 vezes maior do que a dele para a Terra.
- O ponto em que a zona gravitacional solar perde força é a chamada Heliopausa, mas o Sol segue sendo a estrela de referência por trilhões de quilômetros de uma região do espaço interestelar chamada de Nuvem de Oort.
Qual o prazo de validade de um satélite?
A maioria dos satélites é retirada de operação quando já não desempenha sua função. Se estão próximos da Terra, o protocolo internacional define dois caminhos: ou ele é direcionado para queimar na atmosfera, ou transferido para uma “órbita cemitério”, ou seja, jogado para fora da influência da Terra.
O astrônomo Thiago Gonçalves, diretor do Observatório do Valongo da UFRJ e pesquisador apoiado pelo Instituto Serrapilheira, afirma que, em geral, se tenta jogar o satélite em uma órbita onde ele não atrapalhe outros equipamentos. A estratégia busca mitigar riscos de colisões e evitar lixo espacial.
“Os componentes eletrônicos se deterioram com o tempo. Está passando pelo menos um pouquinho de eletricidade por ali, e ela pode danificar os componentes. Além disso, combustíveis dos sistemas de resfriamento também podem acabar”, afirma.
Qual o satélite mais velho em funcionamento?
As sondas Voyager 1 e 2, lançadas em 1977, são recordistas por seguirem operando mesmo após quase 50 anos de seu lançamento. A Voyager 2 é a mais antiga (foi lançada alguns dias antes).
A 1, porém, é a que está mais distante: em sua última comunicação, ela foi encontrada há 24 bilhões de quilômetros de distância da Terra, “um pouco” a mais que a irmã (22 bilhões de quilômetros).
“Elas já cruzaram o que costumamos considerar a fronteira do Sistema Solar e seguem operando mesmo tantos anos após seus lançamentos. É o objeto feito por humanos que chegou mais distante e, pelo menos, a gente consegue ter leitura da operação dos instrumentos, mas nenhum dado científico novo”, completa Thiago.
Outra sonda exploratória importante é a New Horizons, lançada em 2006 e que sobrevoou Plutão há 10 anos. Ela, entretanto, ainda não deixou a região de influência do Sistema Solar. A Nasa prevê que isso ocorra após 2030.
Como nos comunicamos com os satélites tão distantes?
A distância da Voyager 1 é tão longa que a última mensagem enviada por ela, trafegando na velocidade da luz, levou mais de 22 horas para ser recebida aqui na Terra.
A comunicação com satélites tão distantes é feita por rádio. A intensidade do sinal recebido, porém, é pequena. “Este sinal é codificado e em faixas de frequência muito diferentes do rádio comercial. Os impulsos são bilhões de vezes mais fracos do que a energia de uma pilha de relógio, exigindo antenas de comunicações gigantes e técnicas avançadas para extrair informação útil desse sinal escondido no meio do ruído cósmico natural”, completa Waldo.
Quantos satélites estão ativos hoje?
Estima-se que cerca de 180 satélites estejam atualmente em operação com foco exclusivamente científico. Entre os comerciais, só a Starlink é responsável por mais de 8 mil satélites.
O número exato, porém, é difícil de precisar. “Se a gente combinar astronomia, astrofísica e meteorologia, são vários instrumentos no espaço, mas são diferentes tipos de missões”, indica Thiago.
A quantidade total de objetos em órbita cresce constantemente e já ultrapassa dezenas de milhares. A maior preocupação é com o risco de colisão, já que a regulamentação deste tipo de atividade ainda é baixa.
Destino final pode ser o espaço profundo
Missões enviadas para longe, como a Voyager ou a New Horizons, não reentram na Terra nem são recolhidas. Elas continuam vagando no espaço após cumprirem seus objetivos, sem retorno previsto, mas também sem possibilidade de coletar as informações descobertas. Mesmo sem novos dados, sua existência oferece informações sobre a durabilidade da tecnologia humana no espaço.
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