como fica o IR em investimentos e em seu bolso

A maioria dos brasileiros não tem o hábito de guardar o dinheiro, foca sua vida financeira no presente e paga juros altíssimos. E a minoria que consegue guardar um pouco a cada mês entrou na mira do governo de Luiz Inácio Lula da Silva (PT). A ideia do ministro Fernando Haddad é pegar um bom “naco” de quem faz a “lição de casa”.
Mais uma vez o governo não está seguindo a regra de ouro que muitas famílias usam no dia a dia: não gastar mais do que ganha e deixar uma reserva para o futuro. É o que mostra o conjunto de iniciativas consolidadas em medida provisória publicada na noite desta quarta-feira (11).
Como ficam as aplicações financeiras?
O governo quer “comer” 17,5% do rendimento das aplicações financeiras com o Imposto de Renda (IR). Aqueles investimentos realizados até o fim deste ano, porém, serão tributados segundo as regras atuais.
E as regras atuais seguem um princípio: quanto mais tempo o dinheiro fica guardado, menor é a “mordida” do Leão. O alívio é maior para quem deixa o dinheiro guardado por mais de dois anos. Depois desse período, a alíquota dos fundos de investimento e da renda fixa cai para 15%.
A tributação uniforme de 17,5% acaba funcionando como um desestímulo para guardar dinheiro no longo prazo. Vai beneficiar aqueles que olham o curto prazo, ou seja, até um ano. Para os que investem em renda fixa e fundos de investimento, inclusive os de curto prazo, o governo deixará de morder de 20% a 22,5% dos rendimentos, baixando para 17,5%.
Outras aplicações, que estavam caindo no gosto do investidor e que eram isentas do Imposto de Renda, também passam a ser alvo da mordida do Leão. Papéis como LCI (letras de crédito imobiliário), LCA (letras de crédito do agronegócio), CRI (certificados de recebíveis imobiliários), CRA (certificados de recebíveis do agronegócio) e debêntures incentivadas passam a ser tributadas em 5% do rendimento a partir de 1.° de janeiro de 2026.
Os Fiagros seguirão situação similar: seus rendimentos sofrerão tributação de 17,5%, mas poderão ter alíquota reduzida para 5% quando possuírem mais de 100 cotistas, forem negociados exclusivamente em bolsa e/ou mercado organizado, e nenhum cotista detiver mais de 10% das cotas.
Esses recursos são direcionados a setores como o agronegócio – que está em expansão – e da construção e infraestrutura. Necessários para estimular o crescimento sustentado da economia, os investimentos podem perder atratividade.
Uma das novidades do pacote do governo foi colocar as criptomoedas, um investimento que está na moda, para pagar mais IR. Até agora, movimentações mensais de até R$ 35 mil eram isentas e depois havia uma “mordida” de 15% a 22% sobre os ganhos. As novas regras estabelecem que os rendimentos com moedas e ativos virtuais passam a estar sujeitas à alíquota uniforme de 17,5% do IR, independentemente do valor movimentado. Ou seja, mesmo que o investidor tenha vendido menos de R$ 35 mil no mês, será tributado.
Com o pacote Haddad, como fica quem pega dinheiro emprestado?
Não é só quem tem um pouco de dinheiro para guardar no final do mês será prejudicado pelas medidas do governo. Aqueles que estão endividados – 77,6% das famílias brasileiras em abril, segundo pesquisa da Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC) – também serão afetados.
Não bastasse a Selic estar no maior patamar em quase 20 anos, o custo do dinheiro pode ficar ainda mais caro. As fintechs – empresas que usam tecnologia para oferecer serviços financeiros, como bancos digitais, pagamentos eletrônicos e crédito online – passam a pagar 15% de Contribuição Social sobre o Lucro Líquido (CSLL). Antes a alíquota era de 9%.
Criadas quando o mundo digital ganhava força, no início dos anos 2000, elas rapidamente se firmaram como alternativa aos “bancões”, mas agora podem perder competitividade na disputa por clientes. Pode ter certeza: esse aumento na CSLL vai cair na conta de quem pega dinheiro emprestado para tentar botar as contas em dia ou para quem quer comprar algo para ter mais bem-estar ou ampliar seu negócio.