13 de junho de 2025

Luto na infância: 7 orientações para convers…

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“Ele estava com tanta saudades que me falou: ‘Vó, eu tô com saudade da minha mãe’. Foi a primeira vez que ele falou. E eu: ‘Sério? Eu também estou com muita saudade dela. Você sabia que ela era a minha filha? Vamos nos abraçar que a gente mata a saudade dela‘”.

É assim que Ruth Dias, mãe de Marília Mendonça, tenta tratar a morte da cantora com o neto, Léo, de 5 anos, segundo contou ao podcast NatPod. A artista faleceu em 2021, em um acidente de avião em Minas Gerais, e deixou o filho único, então com um ano e 10 meses. Atualmente, o menino é criado pela avó e pelo pai, o também cantor Murilo Huff.

De acordo com um levantamento realizado pelos Cartórios de Registro Civil, quase 44 mil crianças e adolescentes de até 17 anos ficam órfãos de pai ou mãe anualmente — e cerca de 800 perdem os dois genitores.

É uma realidade que impõem diversos desafios — econômicos, sociais, psicológicos e emocionais. “A criança precisa ter seu espaço, tempo e modo de expressar o seu luto respeitados. O acompanhamento por profissionais da saúde também é importante para garantir que ela se recupere dessa fase”, afirma Mariana Clark, psicóloga especializada em perdas, luto e saúde mental.

Confira algumas orientações para ajudar jovens a enfrentarem a perda de pais e pessoas próximas.

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1. Ter transparência

Contar ou não a verdade é uma dúvida comum. A depender da idade da criança, os responsáveis podem escolher a melhor forma de falar sobre o tema, usando metáforas e palavras de conforto sobre a passagem do ente querido. Mas Clark reforça que a sinceridade deve prevalecer nessa comunicação.

“A verdade e a transparência, na minha opinião, devem ser sempre o pano de fundo para não comprometer a relação de confiança entre a criança e os adultos responsáveis por ela”, orienta.

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A mesma lógica também serve para comunicar o diagnóstico de doenças graves, com possibilidade ou iminência de morte. “É importante que elas estejam conscientes e tenham a oportunidade de se despedir — muitas não têm essa opção.”

2. Dar espaço para a expressão

Desde pequenos, aprendemos que precisamos ser fortes. Mas, por mais importante que seja se tornar resiliente, também devemos aprender a demonstrar nossos sentimentos. “Muitas crianças acabam sofrendo sozinhas. É preciso que elas percebam que há permissão para sentir e se emocionar. Isso vai determinar como elas viverão a experiência do luto“, ressalta.

Quem já perdeu alguém também sabe a montanha-russa de emoções que essa fase provoca. “O mais importante é que possa ser aberto esse canal de escuta e de afeto para que a criança se sinta autorizada a chorar na hora que ela tiver saudade e a brincar quando ela estiver explorando a vida.”

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3. Respeitar conexões

Como a mãe de Marília Mendonça disse, a cantora era mãe e filha — e irmã, prima, sobrinha, amiga, ídola, profissional… Cada perda terá uma repercussão muito distinta, porque a pessoa construiu múltiplas conexões ao longo da vida.

“Cada vínculo que se rompe tem uma particularidade. Então, dentro da coletividade de cada família, haverá reações muito individuais”, afirma. “Há de se considerar também que a perda de uma pessoa amada representa a perda de um lugar de proteção e fortalecimento“.

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4. Construir novas relações

Na ausência de uma pessoa querida que traga um senso de segurança ao jovem, novas relações devem ser construídas para dar o apoio e o acolhimento às crianças e aos adolescentes. “Estamos continuamente nesse processo de reasseguramento, de buscar onde e com quem se sentir seguro — mesmo que ninguém possa efetivamente sanar essa nossa necessidade”, avalia Clark.

5. Competência socioemocional em prática

Essa é a hora de demonstrar e cultivar empatia, validando as emoções do outro. “Cada criança irá se expressar de uma forma: por meio do brincar; em silêncio, falando, deixando de comer ou comendo demais. É respeitar o processo do luto e estar atento a quando isso se torna um comportamento prejudicial”, destaca a psicóloga.

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Respeitar o tempo de cada um é também fundamental. “Não há um prazo sobre quanto tempo é adequado ou não ficar em luto. O importante é que notar quando esse processo traz hábitos que repercutam mal na funcionalidade da criança”, pondera.

Por exemplo, é normal que o apetite diminua, mas a criança não pode ficar muito tempo nesse estado pois afetará sua saúde. Adolescentes tendem a ficar mais fechados, mas é importante que a relação com os familiares seja mantida e que saibam que há um canal para conversa. “Eles precisam voltar a socializar e a brincar”, ressalta Clark.

6. Atenção aos sintomas físicos

Taquicardia, falta de ar, coceira pelo corpo, queda de cabelo, metabolismo mais rápido ou mais lento… são várias as possíveis mudanças no nosso corpo quando estamos sob estresse. Por isso, faça um acompanhamento com o pediatra para verificar a situação. Psicólogos podem ajudar os jovens a superar o luto e a orientar os responsáveis.

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7. O papel da escola

É importante que a escola saiba que essa criança está passando pelo luto, isso ajuda a orientar colegas e professores a tratar o assunto (e quando e como é adequado ou não tratar isso). “Porque ali é também um espaço livre, onde ela vai conseguir pensar em outras coisas, socializar e esquecer um pouco a realidade”, explica a psicóloga.

Essa mudança de ares ajuda os jovens a se sentirem mais seguros e positivos. “É preciso que haja um ambiente de afeto, cuidado e validação dessa dor. E a escola muitas vezes cumpre esse papel.”

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