Asco 2025: avanços concretos e boas perspect…

O Congresso da Sociedade Americana de Oncologia Clínica (ASCO) terminou na semana passada trazendo evidências científicas que mudam a prática médica no que diz respeito ao diagnóstico e tratamento de diversos tipos de câncer.
Evento mundial mais importante na oncologia, a Asco 2025 foi, sem dúvida, uma das mais positivas das últimas décadas. Há muito tempo não víamos tantos estudos com bons resultados, em praticamente todas as áreas da oncologia.
Numa visão geral, podemos organizar os principais destaques em três eixos: os avanços laboratoriais, as tendências de tratamento e o papel das terapias complementares.
Entre as tendências laboratoriais, chama a atenção os progressos obtidos nas técnicas de avaliação de fragmentos do DNA tumoral circulante no sangue dos pacientes, o chamado ctDNA. Trata-se de uma ferramenta cada vez mais reconhecida por sua utilidade no diagnóstico precoce e no monitoramento da resposta ao tratamento.
A avaliação do ctDNA é realizada por meio da biópsia líquida, um exame não invasivo que permite identificar alterações genéticas e acompanhar a presença do tumor ao longo do tempo de maneira segura e eficiente.
Estudos apresentados demonstram que a redução ou eliminação do ctDNA após o tratamento está fortemente associada à melhora clínica e à remissão da doença.
Um exemplo relevante foi o de pacientes operados que, após a remoção completa do tumor, não apresentaram mais ctDNA na circulação por 2 anos, e que não apresentaram mais recorrências tardias da doença, potencialmente encurtando em três anos o tempo para a determinação da cura.
No Brasil, o desafio ainda é o custo elevado e a oferta limitada do exame a poucos laboratórios. Mas com o avanço da tecnologia, é provável que esses exames se tornem mais acessíveis, baratos e cada vez mais precisos.
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No âmbito dos tratamentos do câncer, a imunoterapia segue como uma das grandes apostas da oncologia. Embora atualmente possa ser utilizada por apenas cerca de 15% dos pacientes, novas formulações vêm sendo desenvolvidas para ampliar as indicações.
É importante destacar que muitos desses medicamentos ainda estão em fase de teste, mas os resultados iniciais já apontam para um futuro promissor.
Outro ponto de destaque foi a demonstração, em diversos estudos, da eficácia de longo prazo da imunoterapia. Em alguns grupos de pacientes, observou-se a completa remissão da doença, sem recidiva mesmo após vários anos — o que, na prática, significa a cura destes casos.
Paralelamente, os anticorpos conjugados a droga (ADCs) ganharam relevância. São compostos que combinam anticorpos monoclonais com agentes quimioterápicos potentes. Funcionam como uma espécie de “Cavalo de Troia”. Assim que entram no organismo, os ADCs saem em busca das células tumorais, sendo “engolidos” pelas mesmas, liberando uma forte dose de quimioterapia apenas dentro dessas células.
Os resultados têm sido expressivos, sobretudo em câncer de mama e gástrico, com menor toxicidade sistêmica e maior eficácia.
Estamos, portanto, diante de uma possível substituição gradual da quimioterapia tradicional por tratamentos cada vez mais direcionados e menos agressivos.
Na área de terapias complementares, destacamos um estudo canadense com mais de 800 pacientes com câncer de cólon operados e tratados com quimioterapia. A pesquisa confirmou definitivamente que a prática regular de atividade física, dentro de um programa estruturado, reduz significativamente o risco de recorrência da doença.
Em um cenário de tratamentos cada vez mais dispendiosos, essa é uma boa notícia. Exercício físico não tem custo e, como mostra a ciência, pode ter impacto concreto na evolução clínica dos pacientes.
Esses avanços, cada um a seu modo, indicam um futuro em que o tratamento do câncer será cada vez mais personalizado, eficaz e acessível.
*Paulo M. Hoff é médico oncologista, presidente da Oncologia D’Or, professor titular da Disciplina de Oncologia Clínica do Departamento de Radiologia e Oncologia da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (FMUSP) e membro pregresso do Conselho Diretor da ASCO.
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