“abra o coração” para aceitar acordo com Mercosul

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) pediu ao presidente francês Emmanuel Macron, nesta quinta (5), que “abra o coração” para aceitar a conclusão do acordo comercial entre o Mercosul e a União Europeia. O tratado, que já está concluído, ainda precisa ser ratificado pelos países-membros do bloco europeu, e enfrenta forte resistência da França por pressão dos produtores rurais do país.
Lula disse que este será seu objetivo na presidência do Mercosul pelos próximos seis meses a partir de 6 de julho, e que não deixará o cargo sem fechar o acordo.
“Eu quero lhe comunicar que não deixarei a presidência do Mercosul sem concluir o acordo com a União Europeia. Portanto, abra o seu coração para a possibilidade de fazer esse acordo com o nosso querido Mercosul. Esta é a melhor resposta que as nossas regiões podem dar diante do cenário de incertezas criado pelo retorno do unilateralismo e protecionismo tarifário”, disparou Lula se dirigindo diretamente a Macron.
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Um pouco antes, o presidente francês comentou as negociações pelo acordo e afirmou que a França está disposta a aperfeiçoar os termos, mas sem se comprometer a assiná-lo neste momento e sem detalhar o que apresentou a Lula.
“Eu deixei claro ao presidente a posição da França e o que deve ser feito para melhorar o texto atual, mas compartilhamos a ideia de um mundo aberto e forte em relação ao clima e ao comércio”, disse Macron enaltecendo a agenda bilateral entre os dois países.
Assim como o presidente francês, Lula também defendeu o multilateralismo nas relações comerciais mundiais – um novo recado ao presidente Donald Trump, dos Estados Unidos, contra o tarifaço imposto a dezenas de países do mundo – e afirmou que a relação com a França se enfraqueceu nos últimos 13 anos, período em que nenhum mandatário brasileiro esteve em missão oficial ao país.
Lula diz ter relatado a Macron que o comércio entre os dois países despencou entre 2012 e 2024, chegando a apenas US$ 9 bilhões no ano passado. E deu uma ordem aos seus ministros para fazerem discursos voltados a empresários franceses no fórum que será realizado nesta sexta (6).
“No comércio, demos um passo atrás e é preciso agora dar dois passos à frente, como se estivesse dançando um bom boleto latino-americano. […] Portanto, os meus ministros que vão falar não façam discursos para os brasileiros que estão aqui. Façam discursos para os franceses”, ordenou Lula.
O petista e Macron ainda ressaltaram as parcerias que estão fechando nas áreas de defesa, segurança, clima, energia, minerais críticos, entre outras (mais de 20 atos), com foco principalmente nas mudanças climáticas. Ambos pontuaram o fato da França ter uma grande fronteira com o Brasil através da Guiana Francesa, na região da floresta amazônica, como um ponto importante de proteção e fornecimento de helicópteros para fazer a segurança.
Emmanuel Macron anunciou um tratamento especial de vistos para o acesso à Guiana Francesa na fronteira com os estados do norte do Brasil, com a isenção de vistos e outras determinações.
“Na ocasião desta visita de Estado, selamos um acordo para permitir as isenções de vistos e também a convenção de transferência de presos entre os dois países. São acordos que eram muito esperados pela segurança dos dois países, mas também para os moradores da Guiana, e também do Amapá, do Pará e do Amazonas”, afirmou.
Ainda nesta quinta (5), Lula recebe o título de “doutor honoris causa” da Universidade de Paris, na Academia Francesa; se reúne com a prefeita da capital francesa, Anne Hidalgo; terá um encontro com a comunidade brasileira que vive no país e participa de um jantar com a primeira-dama Janja da Silva oferecido por Macron.
A viagem de Lula na França prossegue para uma viagem à sede da Interpol em Toulon, que é chefiada pelo delegado brasileiro Valdecy Urquiza, no sábado (7); vai a Mônaco para um evento sobre economia azul, no domingo (8); e para Nice, onde participará da Terceira Conferência das Nações Unidas sobre os Oceanos, na segunda (9).