Câncer de estômago: nova terapia aumenta em 40% sobrevida de pacientes

Um estudo conduzido na China revelou que uma nova terapia com células CAR-T aumentou em 40% a sobrevida de pacientes com câncer avançado da junção gástrica ou gastroesofágica (JGE).
Os resultados foram publicados nessa segunda-feira (2/6), na revista The Lancet, e apresentados na Reunião Anual da Sociedade Americana de Oncologia Clínica (Asco), que acontece em Chicago (EUA). O estudo é considerado um marco por ser o primeiro teste controlado desse tipo com CAR-T em tumores sólidos.
Durante o ensaio clínico de fase 2, os pesquisadores compararam o tratamento com o medicamento satricabtagene autoleucel (satri-cel) ao tratamento padrão com radioterapia, quimioterapia ou imunoterapia em 156 pacientes. Os voluntários tinham câncer de estômago avançado com uma mutação específica (Claudin18.2-positivo) e já tinham tentado duas outras terapias anteriores sem sucesso.
Os resultados mostraram que a maioria das 88 pessoas que fizeram tratamento com o medicamento experimental conseguiu controlar a doença com maior eficiência que qualquer terapia tradicional.
Além disso, eles viveram mais sem a progressão da doença. A sobrevida com o satri-cel foi de 3,25 meses, em média, contra 1,77 meses nos pacientes que receberam terapias tradicionais, como paclitaxel, docetaxel ou nivolumabe. A diferença estatística foi considerada significativa.
“O satri-cel demonstrou eficácia inovadora com benefícios clínicos significativos e taxas de resposta tumoral muito melhores”, disse o professor Lin Shen, do Hospital de Câncer de Pequim e principal pesquisador, em comunicado à imprensa. Shen destacou o ganho em sobrevida global, livre de progressão e taxas de resposta tumoral.
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Primeiro ensaio CAR-T com tumores sólidos
No CAR-T, o paciente tem células de defesa do próprio corpo modificadas para combater o tumor. É como se os linfócitos — as células de defesa do corpo — ganhassem novos óculos que permitissem enxergar as células cancerígenas como inimigos com maior evidência.
O satri-cel atua especificamente na mutação sinalizada, permitindo que o corpo a identifique melhor. Os pacientes do grupo experimental receberam até três infusões da terapia, com 250 milhões de células em cada aplicação.
Segurança e próximos passos regulatórios
No total, 88 pacientes foram tratados com satri-cel. Eventos adversos de grau 3 ou superior ocorreram em quase todos os casos, incluindo redução de linfócitos, leucócitos e neutrófilos, mas isso foi observado também no tratamento tradicional.
Apesar do alto índice de efeitos colaterais, os pesquisadores classificaram o perfil de segurança como administrável. Parte dos pacientes do grupo controle que não responderam ao tratamento inicial teve também a oportunidade de receber posteriormente o satri-cel.
Zonghai Li, diretor executivo da CARsgen Therapeutics, destacou que os dados reforçam o potencial da terapia como uma nova abordagem para tumores sólidos que não respondem aos tratamentos convencionais.
Paciente teve remissão completa de linfoma apenas um mês após fazer terapia celular CAR-T
Marco no tratamento ao câncer
A terapia com células CAR-T já é usada para tratar certos tipos de leucemia e linfoma, como a que levou a remissão completa de um paciente avançado no Brasil em 2023. Agora, os estudos começam a se expandir para cânceres sólidos, tradicionalmente mais difíceis de serem atingidos com essa tecnologia.
Atualmente, ele é testado apenas em pacientes que já passaram por múltiplas tentativas de tratamento, incluindo quimioterapia, imunoterapia e tratamentos direcionados, antes de ingressar no ensaio clínico. No futuro, a ideia é que o CAR-T apareça como opção antes para tentar aumentar a sobrevida.
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