2 de junho de 2025

Juros do consignado CLT disparam após nova regra e surpreendem governo

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A nova modalidade de crédito consignado voltada aos trabalhadores do setor privado, em vigor desde o final de abril, teve uma disparada dos juros médios no primeiro mês completo de operação de acordo com dados do Banco Central. As taxas superaram em mais de 15 pontos percentuais os valores praticados anteriormente e foram na contramão do esperado pelo governo.

Segundo a autoridade monetária, a taxa anual do chamado “Consignado CLT” saltou de 44% para 59,1% entre março e abril, o que equivale a 3,94% ao mês. O chefe do departamento de estatística do Banco Central, Fernando Rocha, afirmou que essa disparada seja um reflexo do risco que os bancos estão vendo no perfil da dívida e de endividamento dos trabalhadores privados.

“[A nova linha] ampliou o leque de clientes e fez com que houvesse uma demanda muito significativa [pelo crédito consignado]. Provavelmente os bancos avaliaram que esse leque de clientes tinha um perfil de dívida, de endividamento ou de condições de pagamento pior do que aqueles que já estavam nessa modalidade”, afirmou em uma entrevista coletiva nesta quinta (29).

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Apesar do aumento expressivo no custo do crédito, a demanda cresceu no período com um volume total emprestado subindo 7,4% e alcançando R$ 45,2 bilhões. Com isso, o estoque total de crédito consignado, que inclui também aposentados do INSS e servidores públicos, atingiu um recorde histórico de R$ 704 bilhões.

A análise de Rocha é compartilhada pelo Ministério da Fazenda, que avalia que a expansão da base de trabalhadores com acesso ao produto – de 4 milhões para cerca de 47 milhões de potenciais tomadores – modificou o perfil de risco das operações.

“Muda-se significativamente o perfil de risco das novas operações contratadas nessa linha específica”, informou a pasta, acrescentando que as empresas anteriormente habilitadas ao desconto em folha apresentavam “perfil de maior estabilidade” e “risco de crédito mais baixo”.

Apesar da alta inicial nos juros, o Banco Central projeta uma possível reversão nos próximos meses, com a entrada em vigor do uso do Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS) como garantia para os empréstimos. A expectativa é que o recurso passe a valer em julho.

“É razoável esperar que, quando a opção de uma garantia no FGTS estiver plenamente operacional, esse movimento se reverta”, afirmou Rocha.

Aumento da inadimplência

O Banco Central também revelou que a inadimplência média nas operações de crédito teve elevação entre março e abril, subindo 0,3 ponto percentual e atingindo 3,5%. A inadimplência cresceu tanto entre empresas (de 2,2% para 2,5%) quanto entre famílias (de 3,9% para 4,1%), com aumento nas operações com recursos livres (de 4,5% para 4,8%) e direcionados (de 1,5% para 1,7%).

Apesar disso, Rocha ponderou que “ainda é cedo” para afirmar se os dados marcam o início de um novo ciclo de alta da inadimplência.

Em meio a esse cenário, o crescimento acumulado em 12 meses do estoque de crédito bancário mostrou leve aceleração em abril, embora ainda abaixo do pico registrado em fevereiro. O avanço das concessões de crédito bancário, ajustado sazonalmente, foi de 3,1% no mês e foi classificado como “forte” pelo BC.

Entre os empréstimos a empresas, destacaram-se as linhas de Adiantamento sobre Contrato de Câmbio (ACC) e de financiamento a exportações.



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